Título: BOLSA DESPENCA 4,33% E QUASE ZERA GANHO NO ANO, EM NOVO DIA DE TENSÃO
Autor: Rui Pizarro
Fonte: O Globo, 13/06/2006, Economia, p. 22

Baixo volume de negócios eleva pressão sobre o dólar, que fecha a R$ 2,289

O mercado financeiro teve um dia de nervosismo ontem. O dólar comercial fechou a R$2,289, em alta de 1,24%. Já a Bolsa de Valores de São Paulo registrou queda de 4,33% (33.554 pontos) e praticamente zerou o ganho no ano ¿ agora, acumula alta de apenas 0,29% em 2006. A semana mais curta em função do feriado e a estréia do Brasil na Copa reduziram muito o volume de negócios ontem, o que acabou potencializando os efeitos da turbulência iniciada em 10 de maio, devido aos temores de novas altas de juros nos Estados Unidos. No mercado externo, o risco-Brasil subiu 2,66%, para 270 pontos centesimais.

No mercado de câmbio, a cotação do dólar foi pressionada também por remessas de recursos ao exterior. Segundo analistas, foram negociados cerca de US$825 milhões no dia, frente à média de US$2 bilhões de meses anteriores. Na Bolsa, o volume financeiro ficou em R$1,9 bilhão, abaixo da média diária do ano, de R$2,5 bilhões.

As perdas foram elevadas pelas afirmações de Sandra Pianalto, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Cleveland, de que uma alta sustentada do núcleo dos preços ao consumidor (que exclui as variações de alimentos e energia) superaria o nível de conforto visto por ela. Já a diretora do Fed Susan Bies disse que está crescendo o repasse do preço da gasolina ao núcleo.

Com isso, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 0,91% e o Nasdaq recuou 2,05%. No Brasil, segundo dados da Economática, de 9 de maio a 9 de junho, a Bovespa teve queda de R$206,7 bilhões em valor de mercado. Para se ter uma idéia da cifra, a consultoria aponta que todo o setor bancário do país listado em bolsa representa cerca de R$260 bilhões.

As atenções estão voltadas para a divulgação, hoje, da taxa de inflação no atacado nos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês) e, amanhã, o índice no varejo (CPI), ambos de maio.

¿ Se o núcleo do CPI vier acima de 0,20%, poderá forçar o Fed a elevar os juros para 5,5% ao ano, acima dos 5,25% previstos, com óbvias repercussões no Brasil e no mundo ¿ afirmou Jorge Alberto Cabral, gestor de Renda Fixa da Concórdia.

O mercado financeiro, porém, continua prevendo redução nos juros básicos na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de julho, de 15,25% para 14,75% ao ano, segundo a pesquisa Focus, com os cem maiores bancos do país, divulgada ontem pelo BC.

(*) Com agências internacionais