Título: Água correndo
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 14/06/2006, O GLOBO, p. 2

A pesquisa CNI-Ibope trouxe uma frustração particular para os aliados de Geraldo Alckmin: em relação à pesquisa de maio desta série, ele e Lula ficaram no mesmo lugar: 48% e 19%. Mas agora já não podem dizer que ele é pouco conhecido. Entre as duas pesquisas, Alckmin teve uma boa exposição na mídia, ainda que o presidente Lula seja favorecido pelo cargo e pela propaganda oficial.

As águas correram visivelmente para Lula: a avaliação do governo melhorou em relação à pesquisa CNI de março e mesmo em relação à pesquisa do Ibope para a TV Globo, feita em maio. Nesse intervalo, Garotinho saiu do páreo, o que também favoreceu Lula. Com o PMDB fora da disputa, espera-se no partido uma enchente a favor do presidente, que agora parece ter recuperado plenamente sua condição anterior ao estouro da crise. A melhora da avaliação do governo desta vez foi mais uniforme, alcançando quase todos os segmentos sociais.

Ele continua rejeitado pelos que ganham mais de dez salários-mínimos e têm instrução superior. Nessa camada, Alckmin mantém sua força mas não tem conseguido penetrar no ¿núcleo eleitoral duro¿ de Lula, os mais pobres.

Outra decepção dos aliados de Alckmin é com o fato de a invasão da Câmara pelo MLST não ter arranhado Lula, até onde se pode deduzir. A pesquisa não consultou os eleitores sobre isso mas foi a campo entre os dias 5 e 7 de junho. A invasão foi no dia 6. Poderia ter tido algum impacto, ainda que residual.

Entre uma pesquisa e outra foram ao ar os programas estaduais do PSDB e houve um bombardeio de inserções nacionais, em que os tucanos bateram forte em Lula. Faltam ainda os programas nacionais do PSDB e do PFL, que prometem ser ainda mais contundentes, seguindo a linha dos discursos de domingo em Belo Horizonte.

A frustração dos efeitos lança dúvidas sobre o acerto da estratégia da oposição, de espancar verbalmente Lula tentando desconstruir seu favoritismo. Não há nada que comprove a teoria do pão-de-ló, segundo a qual em certas situações eleitorais bater no adversário acaba servindo para fortalecê-lo, conferindo-lhe a condição de vítima e despertando a simpatia de eleitores que ainda não haviam se decidido.

Certamente não é por apanhar que Lula mantém sua liderança, mas graças a um conjunto de ações administrativas e a uma superexposição que fortalecem a percepção favorável do governo e de sua forma de governar. Mas contra as vantagens do presidente que disputa no cargo, os criadores do sistema de reeleição pouco podem fazer.

Heloísa Helena na campanha

A senadora Heloísa Helena cresceu um ponto na pesquisa IBOPE/CNI. De 5% para 6%. Apenas 8% dizem conhecê-la bem e sua rejeição é a mais alta, 36%.

Entrevistada do programa ¿Roda Viva¿ anteontem, ela defendeu pontos de vista que ajudarão os eleitores a decifrá-la. Ela tem um cativo eleitorado de esquerda ortodoxa, mas está em busca dos eleitores que se decepcionaram com o PT e não admitem votar no PDSB-PFL. Seu desafio é agradar aos primeiros sem espantar estes outros, que podem não ser ¿socialistas por definição¿, como ela, mas apreciam sua combatividade.

Agrada os cativos com sua violência verbal, tão contrastante com sua ternura nas relações pessoais. Senadora e candidata, fala da podridão da política e do jogo sujo eleitoral como quem está acima disso. É seu modo de ser, justifica. Evitando assustar os outros, diz que defende o socialismo para um futuro distante. Presidente, faria reformas para tornar o capitalismo mais inclusivo e a democracia mais efetiva, com justiça social.

Quando é cobrada a dizer o que faria no governo mostra a face pouco conhecida. Baixaria logo os juros à metade. Copom e Banco Central? Devem fazer o que o presidente quer. E garante que não aconteceria nada, nadinha, nenhuma turbulência econômica. Com que forças governaria? Diz que prefere um Congresso de oposição, fiscalizando o Executivo. Presidente, convenceria os partidos a aprovar seus projetos, valendo-se do apoio da sociedade, das demais instituições, dos movimentos sociais.

A política não é tão simples, mas com sua eloqüência ela convencerá alguns de que os outros não tentaram porque ¿são covardes¿. Está pedindo a cada eleitor seu que lhe arranje mais três votos. Com isso, ultrapassaria Alckmin.