Título: Ministra do STF quer cautela ao julgar mensaleiros
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 14/06/2006, O País, p. 11

Ex-procuradora de Minas Gerais, Carmem Lúcia Antunes Rocha vai assumir vaga de Nelson Jobim dentro de nove dias

BRASÍLIA. A nove dias de assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), a procuradora Carmem Lúcia Antunes Rocha defendeu que a principal Corte do país adote a cautela para julgar as 40 pessoas denunciadas por envolvimento no valerioduto. A nova ministra disse que, apesar da cobrança da sociedade por punições, a Justiça não pode ter pressa e tem que agir com a razão.

¿ A resposta não pode ser mais rápida do que a Justiça pode dar. Direito é razão, não emoção. O julgamento mais célere da humanidade foi o de Cristo. E não queremos mais crucificações ¿ disse Carmem Lúcia.

Apesar da avalanche de denúncias de corrupção envolvendo o Congresso Nacional e os partidos políticos, a nova ministra vê com bons olhos o momento do país e demonstrou ser uma otimista de carteirinha:

¿ Tudo o que aconteceu representa uma possibilidade de repensar, de mudar de rota. A crise é uma ruptura para passarmos para um outro momento.

Reprovação ao MLST: ¿Todo ato de violência é perigoso¿

O tom de reprovação aparece quando ela comenta a invasão da Câmara dos Deputados por militantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), na semana passada.

¿ Todo ato de violência é perigoso. Não é bom para a democracia. Até na vida pessoal devemos pensar cem vezes antes de uma reação intempestiva ¿ disse.

Ao tomar posse no lugar do ex-ministro Nelson Jobim, que presidia o Supremo quando se licenciou, a ministra vai se deparar com cerca de dez mil processos. Mas nem por isso vê com pessimismo o momento do Judiciário. Ela acredita que a Justiça é hoje muito mais acessível às camadas mais pobres da população e dá como exemplo a criação dos juizados especiais.

Indicada para a vaga pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-procuradora do Estado de Minas Gerais elogia o Fome Zero, principal aposta de Lula para a reeleição, mas ressalva:

¿ Fome dói, é uma indignidade. Não se ensina a mudar quem está se afogando. Primeiro se salva essa pessoa. Mas tem que ter uma extensão disso.

Professora titular de direito constitucional da PUC de Minas, Carmen Lúcia, de 50 anos, é mineira de Espinosa. Ela já publicou dezenas de artigos em revistas especializadas, além de sete livros. A indicação de seu nome para o STF foi aprovada pelo plenário do Senado, em maio deste ano, por 55 votos a favor e um contra. Ela é a segunda mulher a ocupar uma vaga no Supremo, o tribunal mais importante do país, que atualmente é presidido pela ministra Ellen Gracie.