Título: OITO DIAS DE FÔLEGO PARA VARIG
Autor: Tania Menai e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 14/06/2006, Economia, p. 23

Juiz de NY estende liminar que protege aviões, mas manda empresa pagar a credor

O juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York, estendeu ontem até o dia 21 a liminar que impede a retomada de 25 aviões da Varig. O mesmo juiz, entretanto, ordenou que a companhia pagasse até as 17h de ontem US$3,8 milhões a uma empresa de leasing ¿ a International Lease Finance Corp. (ILFC) ¿ sob o risco de ter 11 aviões retomados por essa credora. Drain negou um pedido da Varig para reconsiderar uma decisão sua tomada em 31 de agosto do ano passado, e depois prorrogada, que ordenava o pagamento dessa quantia à ILFC, referente a cinco Boeings 737 e a seis 757. A Varig informou que estava em negociações com a ILFC sobre as condições para fazer o pagamento.

Na audiência, o advogado da Varig, Rick Antonoff, garantiu que, além da NV Participações ¿ controlada pela associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), que fez a única oferta no leilão realizado na quinta-feira ¿ há um segundo investidor interessado em comprar a Varig, por US$450 milhões pagos em dinheiro. O investidor estaria disposto a depositar US$75 milhões imediatamente na conta da Varig, segundo Antonoff. O nome do interessado não foi revelado, mas, de acordo com o advogado, trata-se de companhia aérea brasileira. A informação teria chegado a ele por meio de Marcelo Gomes, diretor da Alvarez & Marsal (consultoria responsável pela reestruturação da Varig), que não a confirmou nem desmentiu.

Segundo fontes ligadas à Varig, o novo investidor seria o ex-presidente da VarigLog José Carlos Rocha Lima, hoje dono da empresa Syn Logística. Rocha Lima, diz a fonte, lidera um consórcio chamado Carline com outros parceiros que se uniriam à NV. O empresário foi um dos que depuseram na CPI dos Correios sobre contratos da Rede Postal Noturna.

Ao estender a liminar até quarta-feira da semana que vem, Drain negou o pedido de empresas de leasing como Wells Fargo, Bank Northwest, NA e Boeing. No dia 21, Drain avaliará nova extensão desse prazo. A audiência durou três horas e contou com a presença de impacientes credores, além de Antonoff e de Luiz de Lucio, da Alvarez & Marsal.

Os credores ressaltaram as precárias condições de suas aeronaves, algumas paradas no Rio, outras em Nova York. Eles alegaram que a Varig não tem um plano de negócios concreto. Um dos advogados afirmou que os executivos da Varig sequer telefonam para os credores para mantê-los informados sobre a situação.

Drain disse que não tem evidências suficientes para tomar decisões drásticas sobre o futuro da Varig. Ele aguarda a decisão do juiz brasileiro Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, responsável pela recuperação judicial da companhia. Ayoub prometeu anunciar decidir hoje, até meio-dia, se aceita a proposta da NV pela Varig.

O juiz americano destacou, porém, que a Varig deve cuidar urgentemente dos aviões parados. A empresa tem 60 aviões arrendados, dos quais 47 estão em operação, de acordo com a Varig. No fim de 2005, a empresa tinha cerca de 80.

Ayoub disse que a decisão da Corte de Falências de Nova York não invalida ações contra a companhia em tramitação em outras esferas da Justiça americana. Com isso, a Varig poderá ser obrigada a devolver sete aviões para a Boeing ¿ que ganhou esse direito na Suprema Corte em Nova York, na semana passada ¿ além de turbinas para a Willis Lease.

NV vai pedir mais prazo na Justiça

O coordenador do TGV, Marcio Marsilac, disse que a NV pedirá hoje o mesmo prazo dado por Drain à Varig ¿- até 21 de junho ¿ para apresentar as informações exigidas por Ayoub quanto à origem dos recursos e sobre como será a emissão de debêntures. Do R$1,01 bilhão proposto, a NV quer pagar R$500 milhões em debêntures a serem emitidas com base nos lucros da nova Varig, em 20 anos.

Marsilac alegou que a negociação com os investidores, cujos nomes mantém em sigilo, precisa de tempo:

¿ Fatos novos e relevantes justificam esse prazo maior.

Quanto às debêntures, Marsilac ponderou que a NV considera a moeda condizente com o edital:

¿ Se tivermos que substituir, isso nos leva a novas negociações.

Ele não confirmou a informação de que o ex-presidente da VarigLog estaria negociando com a NV. Mas, segundo uma fonte, a proposta já está fechada e poderá evitar que a NV peça mais tempo à Justiça do Rio.

Em Washington, antes de saber da decisão de Drain, o presidente do BNDES, Demian Fiocca, falou sobre eventual contribuição do banco:

¿ O BNDES não é credor da Varig. Vamos contribuir, se for preciso, desde que seja preservada a boa técnica e a prudência bancária. A postura do governo é usar instrumentos como o BNDES, preservando interesses públicos. Ou seja: não colocar dinheiro sem garantias.

A Varig disse que o fornecimento de combustível da BR está normal, pago em recebíveis. Mas fontes da distribuidora dizem que o combustível está garantido só até amanhã.

(*) Especial para O GLOBO

COLABORARAM José Meirelles Passos (correspondente) e Geralda Doca, com Bloomberg News