Título: POLÍCIA PEDE PRISÃO DE EX-SECRETÁRIO DE MARTA
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 15/06/2006, O País, p. 5

Jilmar Tatto, vice-presidente do PT, é suspeito de envolvimento com cooperativas de vans ligadas a facção criminosa

SÃO PAULO. A Delegacia de Investigações de Entorpecentes (Dise) de Santo André pediu ontem a prisão de Jilmar Tatto, que foi secretário de Transportes na gestão de Marta Suplicy (PT) em São Paulo. Tatto é o terceiro vice-presidente nacional do PT e candidato a deputado federal pelo partido. Para a polícia, ele é suspeito de formação de quadrilha e peculato. O Ministério Público deu parecer desfavorável, ontem, à prisão do petista.

A Dise investiga ligações entre a facção criminosa que determinou os ataques em São Paulo em maio e cooperativas de vans que controlam parte do transporte coletivo na cidade. Jilmar Tatto, segundo a polícia, teria determinado que as cooperativas de lotação absorvessem, em 2003, os motoristas de outra cooperativa, a Transmetro, que foi dissolvida devido à sua ligação com a quadrilha. A facção se infiltrou no ramo de lotações para lavar dinheiro e transportar armas e drogas.

Na semana passada, a polícia prendeu o presidente de uma cooperativa, a Cooper Pam, sob acusação de participação no crime organizado. Luis Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, afirmou à polícia que os criminosos infiltrados na Cooper Pam eram os motoristas absorvidos pela ordem de Tatto. O ex-secretário nega as acusações.

¿É um absoluto exagero por parte do delegado¿

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), chamou de absurdo o pedido de prisão:

¿ É um absoluto exagero por parte do delegado. Jilmar Tatto é um cidadão identificado, tem endereço e compromisso com a luta democrática.

Berzoini afirmou que espera não haver conteúdo político no pedido de prisão. Semana passada, o secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, discutiu com parlamentares petistas na Assembléia Legislativa. Um deles é irmão de Jilmar, o deputado estadual Enio Tatto (PT). A confusão aconteceu durante seu depoimento sobre ataques da quadrilha em São Paulo:

¿ Espero que não tenha conteúdo político. Pode ter. De algumas pessoas a gente nunca sabe o que esperar.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública informou que Saulo não interfere no andamento de inquéritos.

Ontem, Tatto divulgou uma nota na qual afirma que a atitude da Dise de Santo André causou ¿estranheza e indignação¿ e que as acusações são infundadas. Tatto disse que tomará medidas judiciais, inclusive recorrendo à Corregedoria da Polícia Civil.

¿Jilmar Tatto é pessoa pública, possui endereço e emprego fixo. Não oferece risco à ordem pública. Nunca foi chamado a depor no citado inquérito. Portanto não tem conhecimento da investigação a não ser pela imprensa¿, diz a nota, que alega que o pedido de prisão não tem fundamento legal. Tatto se queixou da divulgação do pedido de prisão antes que fosse tomada a decisão da Justiça: ¿Faz-se crer que se busca macular a imagem do ex-secretário, um verdadeiro impropério jurídico¿.

Sobre o suposto envolvimento do ex-secretário com as cooperativas, a nota afirma que ele seguiu a ¿lei e o edital para a contratação de cooperativas¿. Para o ex-secretário, é ¿absurda a tentativa de envolvê-lo em qualquer ilegalidade, principalmente num momento de crise, em que a segurança do estado é questionada¿.

Polícia diz ter documentos como provas contra Tatto

Preso pela Dise, Pandora diz que Tatto intermediou uma reunião dos líderes das cooperativas na qual sua empresa foi obrigada a absorver os motoristas da Transmetro. Os policiais da Dise afirmaram que, além do depoimento, têm documentos que levaram ao pedido de prisão.

A decisão sobre a prisão de Tatto está nas mãos da juíza Aparecida Angélica Correia Nagao, da 2ª Vara Criminal de Santo André. A decisão deve ser divulgada até segunda-feira. Embora a juíza tenha pedido o parecer ao Ministério Público, ela pode discordar dos promotores e determinar a prisão.