Título: EMPREGO INDUSTRIAL CRESCE SÓ 0,5% E SALÁRIO CAI
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 15/06/2006, Economia, p. 21

Resultado em 12 meses é negativo. Setores que usam mais mão-de-obra, como calçados e madeira, têm dificuldades

O emprego na indústria cresceu só 0,5% em abril frente a março, já descontados os ajustes sazonais, informou ontem o IBGE. Foi o melhor desempenho do mercado de trabalho industrial desde o início do ano. Mas, no acumulado em 12 meses, o emprego na indústria terminou abril com ligeira queda de 0,1%, no primeiro resultado negativo desde julho de 2004. Segundo o IBGE, os segmentos da indústria mais dinâmicos são justamente os que empregam menos trabalhadores na produção. Por outro lado, indústrias muito intensivas em mão-de-obra estão perdendo fôlego:

¿ Setores como calçados e artigos de couro ou madeiras, por exemplo, usam muita mão-de-obra e estão sendo prejudicados pelo câmbio, pois sofrem a concorrência com artigos importados ¿ afirmou Denise Cordovil, técnica do IBGE.

Tendência é de recuperação no emprego, dizem analistas

Frente a abril do ano passado, houve retração de 0,8% no emprego industrial, na oitava queda seguida neste tipo de comparação. No segmento de calçados e artigos de couro, a queda foi de 13,6%. Além do câmbio, a crise no setor agrícola afetou o mercado de trabalho na indústria. As fábricas de máquinas e equipamentos, cuja produção é em grande parte voltada para o campo, diminuíram em 8,6% seus postos de trabalho.

Denise, do IBGE, lembra que a comparação com o ano passado é afetada por uma base de comparação alta: em 2005 o mercado de trabalho na indústria estava dinâmico, refletindo o vigor da produção fabril de 2004. Análise semelhante é feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo relatório divulgado ontem pelo Iedi, a ocupação na indústria sofre agora o impacto negativo da retração do setor no segundo semestre do ano passado, ¿confirmando mais uma vez a reação defasada do emprego em relação à produção industrial¿.

O fraco desempenho do emprego foi acompanhado por uma queda de 0,7% na folha de pagamentos da indústria, na comparação com março, já com ajuste sazonal. Com isso, desde fevereiro, o total de salários pagos pelo setor fabril acumula retração de 2,7%, neste tipo de comparação. Entretanto, segundo estimativa do Departamento Econômico do Bradesco, o rendimento médio real dos trabalhadores da indústria tem crescido a um ritmo próximo a 1,2% nos últimos meses, frente ao mesmo período do ano passado.

Para o Bradesco, este é um indício de que o mercado de trabalho não está desaquecido. O banco espera que, nos próximos meses, a queda no emprego industrial seja interrompida, refletindo a recente melhora na produção do setor.

O indicador de horas pagas na indústria confirma este cenário de melhora futura. O IBGE constatou não só acréscimo de 0,5% frente a março (já descontados efeitos sazonais), como também uma tendência de recuperação sobre 2005. Em abril, em relação ao mesmo mês do ano passado, o número de horas pagas recuou 0,4%, um desempenho ligeiramente melhor do que a queda de 0,5% registrada em março.

¿ Nos primeiros meses de 2006, a produção industrial se recuperou e o número de horas pagas teve um resultado mais positivo do que no fim de 2005. O emprego ainda não reagiu mas, à medida que se consolide a retomada da produção, a tendência é que haja um aumento das contratações ¿ explicou Denise, do IBGE.

No Rio, emprego cai 0,4% e folha de pagamento sobe 5,5%

No Estado do Rio, houve redução de 0,4% no pessoal ocupado na indústria, em relação a abril do ano passado. O número de horas pagas também apresentou queda, de 1,7%. Mas houve um aumento na folha de pagamentos, de 5,5%.