Título: FÉRIAS RUMO AO EXTERIOR
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 16/06/2006, Economia, p. 17

Dólar baixo lota vôos internacionais em julho, enquanto turismo interno tem ritmo fraco

A Copa do Mundo está fazendo o brasileiro viajar menos pelo país em julho. Motivos não faltam, dizem as agências de turismo. Há consumidores que comprometeram a renda da viagem na compra de televisão nova, sem falar no fato de que há famílias que ainda pagam prestações do passeio das férias de verão. Há, porém, outra questão que leva o brasileiro a rejeitar o turismo interno: o dólar baixo. O câmbio favorável torna, durante mais um período de férias, atrativos os pacotes para o exterior ¿ em especial para América Latina ¿ e chega a ter, inclusive, destinos lotados desde já.

Na operadora Urbi et Orbi, as vendas para as férias no Brasil chegam a estar 10% abaixo do que se viu em julho do ano passado. Nem para as Serras Gaúchas, tradicional destino no inverno, o desempenho é bom. Já as viagens para a América do Sul devem registrar alta de 15% nesse mesmo período. Apenas para Bariloche (Argentina), o point do inverno, a empresa dobrou a oferta de pacotes, pagos em até dez meses.

¿ Entre comprar uma televisão nova para assistir os jogos e viajar, o consumidor ficou com a primeira opção. Resultado: não sobrou dinheiro para viajar pelo Brasil. Ainda estamos na expectativa de o turismo interno se recuperar após a Copa do Mundo. Até porque alguns pacotes baixaram o preço para seduzir o consumidor de última hora ¿ disse Mario Nascimento, gerente da operadora.

Agência dobra vagas para a Europa

E área internacional também é o destaque de outras empresas do setor. No Grupo Marsans, o câmbio favorável fez a empresa apostar na Europa e, por isso, há 2.500 vagas para o continente, duas vezes mais do que em julho do ano passado. Na Natural Mar e Turismo, por sua vez, o destino mais procurado é a Argentina. Em seguida, o Chile. Apesar de ainda haver lugares, o consumidor encontra dificuldades para confirmar vôos: há muitos bloqueados para fazer conexão na Argentina.

¿ Dólar e inflação baixos fazem com que o consumidor tenha um ganho de renda quando se fala em turismo. E a estabilidade permite que o brasileiro não tenha medo de comprometer seu orçamento em prestações. Até por isso está sendo difícil agendar um fim de semana em Buenos Aires ¿ disse Mario Sério Righi de Castro , diretor da operadora, que acredita num aumento de 20% nas vendas em julho.

O dólar barato é o que permite a Marcelo Araripe, diretor de marketing da administradora de shoppings Egec, viajar a Nova York em julho. Na mala de viagens, apenas uma dúvida: sua passagem é da Varig:

¿ Mas estou otimista: não terei o vôo cancelado. Tudo vai dar certo. O dólar ajuda e muito. Meu hotel e meus gastos serão feitos no cartão de crédito. É o câmbio que permite isso.

Para Luis Strauss, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), crise da Varig não está prejudicando o turismo interno.

¿ Há apenas uma menor oferta momentânea, mas há uma migração para outras companhias aéreas.

O que se percebe é que o consumidor das viagens nacionais não quer correr riscos e, por isso, nem cogita viajar pela Varig, disse Paulo dos Santos, promotor de vendas da Shangri-lá. A saída é partir para outras companhias, acrescenta ele:

¿ O problema é que nem sempre há disponibilidade em outras.

Santos acrescenta que, as vendas internacionais vão aumentar em 30% sobre igual período de 2005, um impacto direto da cotação do dólar. Ele lembra, no entanto, que sobram lugares nos hotéis brasileiros, o que o faz acreditar que esse mês de julho será o pior dos últimos anos.

¿ As pessoas estão envolvidas em demasia com a Copa e isso tirou o consumidor do turismo doméstico. Além disso, o brasileiro está endividado, principalmente quem viajou em janeiro e parcelou o passeio. As pessoas ainda estão pagando as viagens.

Mas férias de julho não são só diversão. Para muitos jovens, o mês é uma oportunidade para fazer cursos no exterior. Na agência CP-4, o grande problema é a dificuldade de encontrar passagens e vagas em vôos para o Canadá, por exemplo, já não se encontram mais. Além disso, para a Europa, as passagens estão muito concorridas, em especial para Alemanha, França e Inglaterra. Muitas vezes só é possível encontrar na classe executiva, bem mais cara. Entre os destinos mais procurados estão Canadá, Londres e Nova York. No Student Travel Bureau (STB), a maior operadora de turismo jovem do país, também já não há mais vagas para aulas em Canadá e Inglaterra.

¿ Quem deixou para a última hora vai ter que se adaptar às datas e aos horários dos vôos. Esperamos um aumento no movimento de 20% sobre julho do ano passado ¿ disse Andréa Pinotti, gerente nacional de Marketing e Relacionamento da STB.