Título: EM CAMPANHA, PRESIDENTE LIBERA VERBA PARA FAVELAS E CRITICA PREFEITOS
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 17/06/2006, O País, p. 4

A grande maioria das prefeituras não tem projeto¿, disse ele em Olinda

OLINDA (PE). Ao anunciar ontem a liberação de R$74,9 milhões do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos prefeitos mais empenho e eficiência na captação e na aplicação de recursos para projetos sociais. Segundo Lula, muitos prefeitos não têm projetos e em muitas cidades o dinheiro chega, mas as obras não aparecem.

¿ Deixa eu contar uma coisa para vocês, prefeitos. Quando nós disponibilizamos R$884 milhões (do FNHIS), pedi para o Márcio (Fortes, ministro das Cidades): ¿Quero que você convoque todos os prefeitos que têm projetos¿. Tem que ter projeto pronto para ser executado um mês depois. A grande maioria das prefeituras não tem projeto pronto. Então, às vezes, a gente libera o dinheiro, aí vai fazer o projeto, demora quatro meses; aí vai fazer licitação, demora mais quatro meses; e passa um ano, o dinheiro desaparece e a obra não acontece ¿ afirmou, ao discursar em Olinda.

Prefeitos de pelo menos seis cidades pernambucanas (Recife, Paulista, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Camaragibe e Palmares) estavam no palanque no momento em que Lula se queixou da falta de planejamento de autoridades municipais. Ele liberou as verbas que beneficiarão 5.473 famílias distribuídas em nove comunidades da região metropolitana.

Ministério diz que 200 mil famílias são beneficiadas

Segundo o Ministério das Cidades, 171 intervenções semelhantes estão sendo feitas em outros 138 municípios no país, beneficiando 200 mil famílias com renda de até três salários-mínimos e que vivem em condições precárias.

Em Olinda, serão beneficiadas as favelas V8 e V9, erguidas sobre um aterro de manguezal, com casas em palafitas, cujo esgoto é despejado num riacho chamado de canal da malária. As ligações entre as ruas são feitas por pontes precárias, de madeira velha recolhida no lixo.

O presidente percorreu uma das ruas da V8 acompanhado de poucas pessoas, porque as pontes não suportariam o peso de toda a comitiva. Os moradores das palafitas disseram que sonham com a transferência para um conjunto habitacional.

¿ Minha família é grande. A casa é pobre, mas com sacrifício fizemos três quartos. Como vou morar em um apartamento pequenininho? É verdade que o terreno aqui é ruim, que a área é pobre, mas lá não sei se vai caber toda minha família ¿ disse Lindinalva Maria do Nascimento, residente na ruela chamada de Nova York, onde o esgoto corre a céu aberto e a maior parte das casas é feita de madeira velha, zinco, papelão.

Vizinho de Lindinalva, Miguel Barbosa Figueiredo teme pelos seus negócios.

¿ Moro aqui há mais de 20 anos, vivo de comércio. Vendo balas, água, refrigerante e frutas num puxadinho na minha casa. Toda a V8 compra aqui. E se for morar lá, como é que vou viver?¿ perguntava ele, que conseguiu melhorar um pouco sua casa que, como a de Lindinalva, também é de alvenaria.

¿Tem que ter um nome mais bonito para o canal¿

O presidente disse que a remoção dos moradores é a melhor iniciativa. Ele disse ter ficado impressionado com as condições de vida dos habitantes das duas favelas, principalmente os que residem em palafitas.

¿ Fui lá conversar com as mulheres, ver como elas dormem. Fui ver a cama, o chão batido, a podridão do canal da malária que, se Deus quiser, não vai ser mais canal da malária. Tem que ter um nome mais bonito. Uma fedentina muito grande, uma podridão, com crianças brincando aqui e ali e, quando dá enchente, a água entra na casa dessas pessoas ¿ disse Lula, lembrando que também já morou em condições precárias.