Título: TAP PODE GARANTIR FÔLEGO À VARIG
Autor: Erica Ribeiro, Ramona Ordoñez e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 17/06/2006, Economia, p. 23

Companhia brasileira tem combustível garantido somente até segunda-feira

ATAP poderá ser a salvação para a Varig continuar voando nos próximos dias. Segundo uma fonte envolvida nas negociações para encontrar uma saída para a companhia aérea brasileira, a estatal portuguesa estaria disposta a garantir capital de giro à Varig até a data de um novo leilão, do qual também participaria, desde que a proposta da NV Participações seja rejeitada pela Justiça. A NV, formada pela associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) e por investidores estrangeiros não divulgados, fez a única proposta pela empresa aérea no leilão do dia 8. Procurado ontem pelo GLOBO, o presidente da TAP, Fernando Pinto, que está no Rio, disse que se houver uma proposta ela será apresentada na segunda-feira, mas que as reuniões com a Varig continuam.

O caixa da Varig está ficando cada vez mais estrangulado e, de acordo com a mesma fonte, os cancelamentos de vôos agravam a situação financeira da companhia. De acordo com a BR Distribuidora, a Varig só tem recursos para abastecer seus aviões até esta segunda-feira. A BR solicitou ontem uma reunião com o presidente da Varig, Marcelo Bottini, para saber a real situação da companhia e até quando teria recursos para pagar o combustível. A Varig tem negociado com a BR recebíveis de cartões de crédito para o fornecimento. Segundo a presidente da BR, Maria da Graça Foster, a Varig pagou o combustível com recebíveis até o último dia 14. Desde então, vem usando o que tem sobrado, principalmente em função do cancelamento de vôos nos últimos dias. Mas ontem essas sobras acabaram, disse Graça:

¿ A cada dia que se estende a crise da companhia fica mais difícil nosso planejamento futuro de fornecimento de combustível. Na reunião de ontem acertamos o fornecimento até segunda-feira, com novos recebíveis, senão cortaríamos o suprimento.

A executiva da BR disse ao GLOBO que a distribuidora está se esforçando para ajudar a Varig, mas que existe um limite legal.

A Infraero também apertou o cerco. A partir da semana que vem, a Varig somente poderá utilizar os aeroportos administrados pela Infraero se pagar à vista a taxa de embarque dos passageiros a bordo nos aviões. A decisão foi tomada pelo presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, que espera apenas o aval do ministro da Defesa, Waldir Pires ¿ que está voltando de uma viagem ao exterior ¿ para colocar a medida em prática. Para cada passageiro, a empresa terá que repassar R$15 nos vôos domésticos e R$36 nos vôos internacionais.

O presidente da Infraero admite que a cobrança poderá agravar ainda mais a situação da Varig, mas alegou que a estatal exigirá o pagamento porque a companhia aérea está fazendo apropriação indébita ¿ ou seja, cobra dos passageiros e não faz o repasse ao governo. Além disso, a Infraero já denunciou a diretoria da Varig ao Ministério Público. Até agora, contudo, nenhuma providência foi tomada.

¿ A empresa é obrigada a repassar esses recursos porque já descontou do passageiro ¿- disse o brigadeiro, acrescentando que a diretoria da Infraero corre o risco de ser responsabilizada se não efetuar a cobrança.

Ao todo, a companhia aérea deve cerca de R$35 milhões em tarifas de embarque acumuladas durante um mês. O valor não inclui a dívida de R$550 milhões em taxas aeroportuárias ¿ pouso, decolagem e permanência ¿ que a Varig não paga desde setembro do ano passado. Por dia, a empresa deixa de recolher cerca de R$900 mil em tarifas aeroportuárias, segundo cálculos da Infraero.

Enquanto a Varig negocia com seus principais fornecedores e também credores, ontem foi mais um dia de conversas sem conclusão com os interessados na compra da empresa aérea. O juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio ¿ que acompanha o processo de recuperação judicial da Varig ¿ reuniu-se desde cedo com o diretor da consultoria Alvarez & Marsal (reestruturadora da companhia aérea), Marcelo Gomes, e com executivos da consultoria Deloitte, responsável pela administração judicial da empresa. Gomes chegou a afirmar que uma novidade boa sairia até o início da noite, o que não aconteceu.

Os executivos da NV também estiveram reunidos ontem, mas não na sede do TJ, e sim no escritório do economista Paulo Rabello de Castro. Em nota, A NV informou que continua negociando com potenciais investidores, mas, desta vez, não estabeleceu prazo para uma solução. Para que a oferta da NV seja definitivamente homologada pela Justiça, a vencedora do leilão precisa apresentar, antes de mais nada, garantias para pagamento dos US$75 milhões referentes à primeira parcela da compra da empresa.