Título: EM DEZ ANOS, 315 MORTOS EM CONFLITOS
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 18/06/2006, O País, p. 3

Nesse período, Ministério do Desenvolvimento Agrário registra 3.322 ocupações

BRASÍLIA. Nos últimos dez anos, os militantes que lutam pela reforma agrária promoveram 3.322 invasões, segundos dados da Ouvidoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Nesse período, 315 pessoas morreram nos conflitos entre os sem-terra e proprietários, que fazem a vigilância de suas terras com homens armados, na maioria dos casos.

Segundo as estatísticas, 2004 foi o ano mais violento no campo, com 327 mortes comprovadamente relacionadas a conflitos entre sem-terra e proprietários. Naquele ano, o governo investiu R$1,2 bilhão do orçamento da pasta nas chamadas inversões financeiras, rubrica que inclui os gastos com desapropriações de terra para a reforma agrária. Foi mais do que o dobro gasto em 2003 (R$582 milhões).

No ano seguinte, quando os repasses para a reforma agrária chegaram a R$1,9 bilhão, houve 221 invasões. O país conheceu o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) em abril daquele ano, quando cerca de 1.200 militantes do grupo ocuparam por mais de sete horas o prédio do Ministério da Fazenda, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Eles protestavam contra o contingenciamento de R$2 bilhões do orçamento do ministério e ameaçaram invadir o gabinete do então ministro, Antonio Palocci.

Apenas nos primeiros três meses deste ano, foram registradas 110 invasões de grupos de sem-terra, algumas com grande repercussão. Em março, cerca de mil integrantes da Via Campesina, a maioria ligada ao MST, invadiram o campo experimental de sementes da Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná, e danificaram os experimentos da empresa. Na semana anterior, o mesmo grupo destruíra um laboratório de sementes transgênicas da Aracruz Celulose, no interior do Rio Grande do Sul.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é responsável pela maioria das invasões. Em março deste ano, o grupo promoveu 59 das 69 ações no país, 27 delas em Pernambuco e 14 em São Paulo. O MLST comandou uma ação, em Minas Gerais. De janeiro a março, o Nordeste lidera as estatísticas, com 55 dos 110 registros. Desse total, 31 foram em Pernambuco.

O ano mais violento no campo foi 1996, quando 54 pessoas morreram em conflitos. Em 1998, houve 47 assassinatos e em 2003, 42. Apesar do alto número de invasões, a Ouvidoria informou que este ano não houve mortes decorrentes de conflitos entre sem-terra e proprietários, mas 22 assassinatos estão sendo investigados.