Título: PSICOPATA NÃO DEMONSTRA ARREPENDIMENTO
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 18/06/2006, O País, p. 13
Também existem casos de pais que matam seus filhos
SÃO PAULO. Para o coordenador do Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense da USP, Antonio de Pádua Serafim, os pais devem ligar a ¿luz amarela¿ quando percebem que se distanciaram dos filhos:
¿ O pai deve ficar alerta quando perde o contato com o filho. Quando não sabe com quem ele anda, o que faz, aonde vai. Mesmo na adolescência, quando o filho tenta se isolar.
Segundo Serafim, a sociedade tem uma visão romântica dos psicopatas e os imagina como nos filmes. Mas eles estão entre nós. Geralmente, não têm remorso de nada e responsabilizam os outros por suas falhas. Podem cometer crimes bárbaros e têm uma capacidade singular de seduzir as pessoas.
¿ O filho psicopata, que matou os pais, não se arrepende. Vai sempre dizer que os pais procuraram. Perguntei a um rapaz que matou a família: ¿Qual a pior coisa que te aconteceu?¿ E ele respondeu: ¿É que eu tô esse tempo todo preso, né?¿ Matar a família, pai, mãe e irmãos não foi importante.
Para Serafim, entendimento e afeto são o remédio para evitar crimes e agressões. Além da família disfuncional, outro grande problema é o uso de drogas, pois elas diminuem a capacidade de crítica. Mesmo as consideradas ¿leves¿ potencializam características da personalidade que poderiam estar escondidas. O psicólogo diz que ninguém está imune a cometer crime.
¿ Às vezes você vê um crime brutal e pensa: a pessoa que fez isso é um monstro. Você olha e ela é aparentemente normal, mas tem resposta emocional desproporcional. Pode ser provocado, ter um nível de frustração grande e cometer uma atrocidade. Há pais que fazem isso. Pessoas que têm uma boa estrutura, diante de estresse, desenvolvem uma úlcera em vez de cometer um crime.
¿Ninguém mata o filho quando está lúcido¿
Também há casos terríveis em que pais matam filhos. Um músico de Campinas atirou o bebê de um ano contra o pára-brisas de um carro. Na Barra, em 2003, o empresário Waldo Wunder matou a mulher e as filhas de 7 anos. Depois se matou com um tiro de escopeta.
¿ O pai pode matar o filho numa atitude intempestiva. O pai ou a mãe podem sofrer um momento patológico. Ninguém mata um filho quando está lúcido ¿ afirma a psicóloga Mariana Schwartzmann, do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Unicamp.
Mariana comentou o caso de Amador Cortellini, de 68 anos, que matou o filho Rodrigo, dependente de drogas e violento, em 2003. Em depressão, o pai morreu de um derrame.
¿ Foi um ato de desespero. Foi um ato de preservação do núcleo familiar, da mulher e dos outros filhos, e não de destruição. Mas ele não conseguiu viver com o que fez, praticamente cometeu suicídio.