Título: Vamos nos apoderar de nosso destino¿
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 18/06/2006, O Mundo, p. 34

PODGORICA, Montenegro. Predrag Nenezic é ministro de um setor cada vez mais importante para Montenegro: o turismo. Para ele, com a independência, o país se livrou da ¿má reputação sérvia¿ e abriu caminho para recuperar a identidade.

Quais os desafios após a independência?

PREDRAG NENEZIC: Estamos diante de um grande desafio. Mas estamos no caminho da Europa. Com Montenegro independente, vai ser mais fácil atingir este objetivo, porque não temos nenhum problema com a União Européia (UE), com as Nações Unidas, com o Tribunal de Haia, com a OTAN (Organização para o Tratado do Atlântico Norte), com nossos vizinhos.

Com a independência vocês se livram do peso da má reputação da Sérvia no cenário internacional?

NENEZIC: Não é só má reputação. O processo de negociação com a UE estava bloqueado por causa de erros que a Sérvia cometeu e continua cometendo, como problemas com a extradição de criminosos de guerra. Não podíamos ser parte da Parceria para Paz da Otan, porque a Sérvia tinha problemas com a Otan. Não podíamos trabalhar mais próximos da UE porque os sistemas são tão diferentes. Montenegro tem fronteiras abertas e isso é uma vantagem para nossa inserção no processo de globalização. Para a Sérvia, não é o caso. Outro problema é a reputação. A imagem da Sérvia no cenário internacional não é boa. Para a imagem de Montenegro, não era bom continuarmos conectados com a Sérvia. A mídia anunciava que Sérvia e Montenegro haviam fracassado em cumprir isso ou aquilo. Mas não era nunca Montenegro. Era a Sérvia. Nós finalmente vamos nos apoderar de nosso destino.

Montenegro não tem parte da responsabilidade dos erros da Sérvia, já que apoiava o regime do ex-ditador da Iugoslávia Slobodan Milosevic?

NENEZIC: A comunidade internacional disse que Montenegro era bem-vindo. Montenegro foi apoiado pelos EUA, pela UE, mesmo no período de Milosevic. Fizemos tudo para evitar a crise. Abrimos nossas fronteiras para refugiados e também para deslocados internos de Bósnia, Croácia e Kosovo, tanto sérvios quanto albaneses. Chegamos a ter 20% da nossa população de refugiados. Foi quase uma catástrofe humana. Foi o lugar onde todos os líderes democráticos sérvios foram protegidos durante o período de Milosevic. (D.B.)