Título: FORÇA NACIONAL ENVIA 80 HOMENS A VITÓRIA
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 19/06/2006, O País, p. 3

Amotinados mataram dois presos, um deles decapitado, e ameaçavam explodir presídio

VITÓRIA. A Força Nacional de Segurança enviou ontem 80 homens ao Espírito Santo para tentar controlar as rebeliões no estado. Os militares foram deslocados de Mato Grosso do Sul, a pedido do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), depois que os presos radicalizaram e se recusaram a negociar o fim do motim em três presídios capixabas. São esperados até o final da semana mais 220 militares. Três presídios enfrentaram rebeliões no estado no fim de semana: Casa de Passagem de Vila Velha, Penitenciária Regional de Linhares e Penitenciária de Segurança Máxima de Viana. No Presídio Feminino de Tucum houve um princípio de motim, que foi contido por policiais do Batalhão de Choque.

Em Viana, presos armados com granadas fizeram cem reféns

Na Penitenciária de Segurança Máxima de Viana, dois internos foram assassinados na manhã de ontem por presos rebelados. Um deles foi decapitado. Os corpos foram pendurados em uma grade do presídio de frente para a guarita da segurança. Armados com pistolas e cinco granadas, os amotinados afirmavam que matariam mais 22 detentos e ameaçavam explodir o presídio caso policiais do Batalhão de Choque invadissem a unidade. Cerca de cem parentes de presos, entre idosos, gestantes, crianças e adolescentes, foram feitos reféns.

As rebeliões levaram o governo do estado a suspender ontem as visitas nos 14 presídios sob responsabilidade da Secretaria de Justiça. Na Penitenciária Regional de Linhares (a 137 quilômetros de Vitória), os presos mantiveram reféns cerca de 46 familiares que foram visitar detentos no sábado. Os presos reivindicam a volta de cinco criminosos que foram transferidos há cerca de um mês para a Superintendência da Polícia Federal, além de assistência jurídica para análise de processos.

No final da tarde de ontem, após mais de 90 horas, terminou a rebelião na Casa de Passagem de Vila Velha. Os quatro reféns que estavam em poder dos presos desde a última quarta-feira foram liberados e levados ao Hospital Antônio Bezerra de Farias. Um preso morreu no início do tumulto, depois que os presos atearam fogo em colchões. O motim começou depois de uma tentativa de fuga. Dois detentos, um de 19 anos e outro de 22, também deixaram a Casa de Passagem. Eles passaram mal e também foram levados a um hospital.

O coordenador da Pastoral Carcerária, padre Xavier Paulillo, acredita que o desgaste tenha contribuído para a rendição dos presos:

¿ Eles foram vencidos pelo cansaço. Já tinham sido cortadas a água, a alimentação, a luz. Eles já estavam no extremo de suas forças.

Na Penitenciária Regional de Linhares, no norte do Estado, o motim também foi controlado ontem, depois que o Batalhão de Missões Especiais invadiu o presídio. Um helicóptero da Polícia Militar foi usado para facilitar a ocupação. Um detento foi espancado e jogado do alto do prédio, mas não morreu. Os 50 parentes de presos que estavam retidos no complexo desde a visita do sábado foram liberados.

Ordem para incendiar ônibus partiu de presídio

Ontem, mais um ônibus foi incendiado na Grande Vitória. O Corpo de Bombeiros chegou a tempo e conseguiu conter o incêndio. Com o atentado, subiu para 15 o número de ônibus queimados na cidade este ano. Apenas esta semana, desde o início das rebeliões, quatro coletivos foram queimados. A Polícia Civil já admite que a ordem de incendiar os ônibus pode ter partido de dentro de um presídio. Até agora, foram identificados apenas dois suspeitos. Segundo a polícia, ambos já têm a prisão decretada.

Em 2004, diante dos constantes ataques a ônibus, o governador pediu ajuda da Força Nacional. Os homens, segundo o governo do estado, ficarão sob comando da Polícia Militar.