Título: FILHA DE CHE CRITICA GOVERNO LULA
Autor: Leticia Lins
Fonte: O Globo, 19/06/2006, O País, p. 4

Em visita ao MST, médica fala da questão agrária e diz que Stédile ofereceu ajuda a Evo

CARUARU (PE). Em meio a gritos de guerra do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (¿massificar, organizar, construir o poder popular¿), e bem à vontade no Centro de Treinamento Paulo Freire, na Fazenda Normandia, a médica Aleida Guevara cometeu no sábado uma inconfidência num discurso em Caruaru, onde foi homenageada pelo MST: informou que o coordenador nacional do movimento, João Pedro Stédile, pôs a experiência do MST à disposição do presidente da Bolívia, Evo Morales, caso ele precise de reforço na luta contra o capitalismo. Ela ainda criticou o governo brasileiro, que não estaria cumprindo o prometido:

¿ Sempre que venho ao Brasil gosto de visitar um acampamento do MST. É um dos mais importantes movimentos sociais da América Latina e é imprescindível que continue trabalhando para mudar a realidade do continente.

Aos 43 anos, jeito meigo ao conversar, Aleida é respeitada internacionalmente não só como a filha de Che, mas sobretudo pelo seu trabalho contra a mercantilização da medicina. Ela mora em Cuba, país cuja medicina preventiva tem inspirado modelos seguidos inclusive pelo Brasil, como o Programa de Saúde da Família. Ela se mostrou preocupada com o destino do continente:

¿ Estamos apenas no começo de uma luta. Há governos que prometeram muitas coisas, como o do Brasil, e não estão cumprindo ¿ disse, na sexta-feira, no encerramento IV Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba.

No sábado, em Caruaru, ela voltou a falar da importância do Brasil para a América Latina e defendeu o presidente da Bolívia, Evo Morales:

¿ Ele só está lutando pela melhoria das condições do seu país. A Bolívia tem riquezas que nunca pertenceram a ela e pela primeira vez ficarão sob seu controle. O Brasil também um dia terá que ser dono de suas riquezas.

Em seguida, reproduziu uma conversa que ouviu do principal líder do MST:

¿ João Pedro Stédile disse em Viena uma coisa muito importante. Quando Evo Morales falava das divergências entre Bolívia e Brasil, ele ressaltou que elas não eram com o povo brasileiro, mas com as empresas capitalistas. Foi uma atitude muito bonita, que une nossos povos.