Título: NOVOS CENÁRIOS
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 19/06/2006, Economia, p. 18

Com os ventos mudando de direção na conjuntura econômica internacional, as expectativas em relação à trajetória da taxa de juros no Brasil estão sendo revistas pelos analistas financeiros e poucos são aqueles que esperam um corte para 14% ou menos até o fim de 2006. O que preocupa é o comportamento da inflação no ano que vem, em decorrência de pressões sobre o câmbio.

Este ano o índice (IPCA) usado como parâmetro para as metas de inflação deve ficar próximo de 4%, mas existiria o risco de ficar acima de 4,5% em 2007. Embora ainda se situando dentro das metas estabelecidas para o Banco Central, se a inflação do ano que vem superar a deste ano, isso poderia ter um impacto psicológico negativo nos mercados, o que não seria bom logo no início de um novo mandato presidencial.

No curto prazo não há nada ameaçando a economia brasileira, porém, se os ventos estiverem de fato mudando de direção na conjuntura internacional, é bem possível que a oferta de créditos em moeda estrangeira diminua e os investidores no exterior se retraiam na compra de títulos. Nesse caso, o câmbio tenderia a se elevar ligeiramente, pressionando alguns preços em reais, entre os quais os dos combustíveis.

Então, nessa avaliação dos analistas, para conter a inflação em 2007 no mesmo patamar de 2006, o Banco Central precisaria manter os juros relativamente altos, de modo que não se poderia esperar uma queda das taxas básicas para menos de 14% este ano.

Essa discussão sobre juros dificilmente terá fim, e somente na prática é que se conseguirá testar as verdadeiras taxas de equilíbrio da economia brasileira. O patamar de juros reais de 10% ao ano certamente não é de equilíbrio, mas sim de desequilíbrio, pois afeta tremendamente as finanças públicas e transfere renda dentro do país de maneira injusta, além de distorcer a cadeia produtiva.

No entanto, os mercados financeiros no Brasil se viciaram em juros exageradamente altos e criaram forte resistência a qualquer processo de baixa, sempre se escorando nas ameaças de inflação.

Chegará o momento em que a queda de juros criará um círculo virtuoso, já que a dívida pública passará a cair em proporção do Produto Interno Bruto (PIB). O fato de essa dívida ter estacionado no equivalente a 50% do PIB contribui para o chamado risco-Brasil continuar acima da média apurada entre as economias emergentes. Na América do Sul, o risco Brasil só é mais baixo que o da Argentina.

Mas já houve considerável avanço nessa área. Os juros nominais no momento, de 15,25%, são os menores desde o lançamento do real. Mesmo que em julho o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central opte por um corte de apenas 0,25 ponto percentual nas taxas básicas, um tabu estará sendo quebrado.

O fundamental é que nessa guerra de guerrilhas o BC não decida suspender o processo de queda, parando nos 15% ao ano. Isso seria muito ruim para a economia brasileira ¿ apesar de muitos analistas sempre acharem que tal decisão seria uma demonstração de compromisso irredutível das autoridades monetárias no controle da inflação.

São conhecidas como escos as empresas especializadas em aumentar a eficiência energética de outras companhias. Elas se remuneram com parte da economia obtida nesse processo. No Brasil há poucas escos pois não existiam mecanismos que possibilitassem o financiamento de projetos desse tipo, mas tal dificuldade tende a ser superada com o Proesco, programa recentemente lançado pelo BNDES. Jayme Buarque de Holanda, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética, lembra que o investimento para se economizar um quilowatt é bem inferior ao necessário para se aumentar a capacidade de gerar um quilowatt a mais. No entanto, projetos de eficiência energética nem sempre têm garantias reais para oferecer, e os bancos só querem financiar quem possua tais garantias, mesmo que seja uma termoelétrica a gás que não funcione por falta de gás disponível no mercado.

Os campeões de vendas motivadas pela Copa do Mundo foram até agora os aparelhos de TV de plasma 29 polegadas e réplicas da camisa da seleção com o número 10, que é o do jogador Ronaldinho Gaúcho.

Já há uma agenda econômica preparada para 2007, qualquer que venha a ser o futuro governo. O freio de mão dos gastos públicos terá de ser puxado de forma semelhante ao que ocorreu em 2003. No começo deste ano o governo federal deu mau exemplo, concentrando gastos em um período que antecede as eleições no país, e assim o Congresso e o poder judiciário se sentiram à vontade para criar novas despesas, partindo da suposição de que a arrecadação acabará superando as previsões (e isso de fato aconteceu nos exercícios anteriores).

O problema é que esses gastos, relacionados principalmente à folha de pagamentos dos servidores, comprometem as contas públicas de maneira permanente. Se a parcela de investimentos do governo federal no orçamento já era minguada, agora então é que poderá desaparecer de vez. E para não aumentar impostos em 2007 ¿ o que seria um desastre ¿ muitas despesas de rotina terão de ser cortadas, a começar pelas de manutenção.