Título: GOVERNO DEVE MANTER ATUAL META DE INFLAÇÃO, DE 4,5%, TAMBÉM PARA 2008
Autor: Martha Beck e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 19/06/2006, Economia, p. 18

Crise nos mercados pode adiar queda nos juros de longo prazo pela TJLP

BRASÍLIA. A queda-de-braço entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC), que envolve sobretudo a taxa básica de juros, pode ter uma trégua esta semana, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecerá a meta de inflação para 2008 e também a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) que valerá nos próximos três meses. Dentro do governo, o consenso está se formando e deve ser pela manutenção da meta de inflação nos atuais 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Analistas ouvidos pelo GLOBO também acreditam que haverá manutenção do alvo agora, apesar de considerarem que há espaço para pequenos cortes. O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, por exemplo, defende que o ideal seria o CMN reduzir a meta de 2008 para 4,25% ou 4%, como o próprio BC havia sinalizado quando fixou as metas de 2006 e 2007, ambas em 4,5%.

¿ Mas uma meta de inflação de 4% demandaria uma política monetária muito apertada. Por isso, o CMN deve manter 4,5% para 2008 ¿ diz Lintz.

Câmbio e ¿commodities¿ ajudaram a reduzir inflação

A atual crise nos mercados financeiros será levada em consideração pelo conselho. No BC, existe a tendência de defender a manutenção da meta atual para 2008. Apesar de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já ter lembrado que a meta do Brasil é elevada em comparação com países como Chile e México (cujos alvos são de 3% para este ano, com margem de um ponto percentual), a autoridade monetária vem deixando claro que anda preocupada com os desdobramentos das turbulências internacionais.

Além do Banco Central, participam do CMN representantes dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Para alguns economistas, a inflação ainda é um fator de risco, apesar de estar sob controle hoje. Na avaliação do sócio-diretor da consultoria Tendências, Roberto Padovani, este bom momento pode ser temporário:

¿ A inflação deste ano deve ficar abaixo da meta por questões pontuais. O câmbio e a redução das cotações de commodities têm contribuído para a diminuição dos preços.

Outros analistas argumentam que diminuir a meta para 2008 seria um bom movimento. O economista-chefe do ABC Brasil, Luís Otávio Leal, afirma que estabelecer a meta em 4% seria uma forma de o governo mostrar que está comprometido com o controle da inflação. Ao mesmo tempo, ele também defende um aumento da margem de tolerância de dois para 2,5 pontos percentuais. Seria uma forma de garantir o cumprimento da meta em caso de pressões inflacionárias.

Para a TJLP ¿ que serve de referência para empréstimos do setor produtivo e para financiamentos concedidos pelo BNDES, e hoje está em 8,15% ao ano ¿ não existe consenso entre os analistas sobre como o CMN pode se comportar. Para Lintz, do BNP Paribas, a TJLP não deve ser reduzida agora, porque as recentes turbulências no mercado internacional têm provocado aumento no risco-país, variável importante na definição dessa taxa.