Título: Sob o vulcão
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/06/2006, O GLOBO, p. 2

A crise do sistema penal e a força do crime organizado voltaram a se manifestar neste fim de semana no Espírito Santo. Houve rebeliões com reféns em Vitória, Vila Velha e Linhares. E, no entanto, a questão da segurança continua freqüentando de forma corriqueira o discurso dos candidatos a presidente e a governador, como se não representasse a maior das urgências nacionais.

A explosão da violência em São Paulo, entre 12 e 20 de maio, levou o Senado a aprovar um pacote de medidas, necessárias ainda que paliativas. Na Câmara, dificilmente vencerão a inércia desta véspera de recesso eleitoral.

Este fim de semana houve rebeliões país afora, destacando-se a de Mato Grosso do Sul. Em Vitória a situação foi dramática e poderia ter havido uma tragédia. A rebelião terminou ontem com a libertação de 200 mulheres e 50 crianças mantidas como reféns desde o sábado. Nas ruas, mais de 15 ônibus foram queimados e homicídios praticados por ordens dadas diretamente dos presídios.

Em Campo Grande e Vitória, a pedido dos governadores, entrou em ação a Força Nacional de Segurança Pública. É positiva a existência desse esquadrão federal de elite mas ele não passa de uma UTI móvel de emergência. A situação exige muito mais. E se alguma coisa já ficou clara é a necessidade de uma soma de esforços entre todos as esferas de governo ¿ federal, estadual e mesmo municipal ¿ para enfrentar o tráfico, o crime organizado e a crise do sistema prisional.

O jornalista Alberto Dines, no Observatório da Imprensa, o site e o programa, lançou debate sobre o papel que a mídia poderia cumprir chamando a um pacto nacional contra a violência. Os meios de comunicação poderiam cumprir este nobre papel se a terra neste momento não fosse tão infértil. Os próprios internautas, em sua maioria, responderam negativamente à consulta do Observatório. Partidos e candidatos estão ocupados apenas em se diferenciar e se atacar. É todo dia Lula falando das maravilhas de seu governo, das sementes que plantou para um futuro melhor, e Alckmin prevendo catástrofes, ora na agricultura, ora na economia. Falam na crise de segurança de forma genérica, como tema prioritário ao lado de educação e saúde. Não há mesmo como hierarquizar essas três questões, todas importantíssimas. Ocorre, porém, que para a educação e para a saúde de certa forma o país já encontrou o caminho a ser trilhado, ainda que tenha de ser aplainado. Na educação já avançamos muito na universalização mas é preciso enfrentar o problema da qualidade (e expandir o ensino técnico, parando de fingir que todos os jovens poderão ir para a universidade). Na saúde, é preciso melhorar o gasto (pois as fontes vinculadas já existem), investir mais na prevenção e humanizar o SUS, com suas filas e prontos-socorros lotados.

Mas para a segurança não há receita aprovada. O Sistema Nacional de Segurança Pública, lançado pelo atual governo, pode ser um caminho mas ainda está engatinhando. Só agora será inaugurado o primeiro presídio federal, para que sua eficácia seja testada. Um pacto, um acordo, alguma união de esforços terá que ser feita quando a eleição passar. Para enfrentar efetivamente o problema, governo federal e governos estaduais terão que se sentar à mesma mesa.