Título: Um novo round
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 21/06/2006, O GLOBO, p. 2

A campanha eleitoral não será apenas uma reprise da luta acusatória entre tucanos e petistas em que estes últimos, cravejados de denúncias, arderam nas chamas de três CPIs, uma delas encerrada ontem. Está começando agora um novo round, com os tucanos tentando derrubar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na certeza de que ele está lhes armando uma cilada com a ressurreição da chamada lista de Furnas.

Na Câmara, o líder tucano Jutahy Junior pediu ontem a demissão do ministro da Justiça, acusando-o de não ter mais condições de permanecer no cargo. Dois ex-clientes teriam declarado que, no passado, lhe fizeram pagamentos de honorários em contas no exterior. A Polícia Federal terá que investigar isso, e não poderá fazê-lo subordinada ao ministro, disse Jutahy. No Senado, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e o líder Arthur Virgílio foram direto ao ponto, acusando o ministro de estar pilotando as investigações da PF sobre a lista de políticos supostamente beneficiados por um caixa dois montado em Furnas no governo passado. Foi posta em circulação pelo mal-afamado lobista Nilton Monteiro (que os tucanos dizem ter agido em sintonia com petistas mineiros).

¿ Dou 24 horas ao ministro para que ele demonstre não estar mancomunado com o falsário. Do contrário, vou à guerra ¿ disse Arthur Virgílio.

A lista foi dada como falsa pela própria Polícia Federal, que agora atesta a veracidade da assinatura do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, com base numa perícia técnica. O ministro já havia se tornado bola da vez da oposição logo depois da queda do ex-ministro Antonio Palocci. Foram muitas as tentativas de tucanos e pefelistas de provar seu envolvimento na operação de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, acusador de Palocci. Com um depoimento na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara ele obteve uma trégua, agora interrompida pelo ressurgimento da lista.

Faria parte do mesmo contra-ataque da oposição a denúncia contra a líder Ideli Salvatti, quadro mais combativo do PT nas CPIs. Dados de seu sigilo bancário, quebrado não se sabe como, foram usados por um procurador para afirmar que ela movimentou em sua conta recursos bem superiores a seus rendimentos. Ideli reagiu indignada, afirmando que movimentação não é saldo e exigindo apuração da violação de seus dados.

A CPI dos Bingos terminou com um relatório ruim para o governo, que pede o indiciamento de Palocci e de Paulo Okamotto mas deixou de fora, por insuficiência de indícios, o ex-ministro José Dirceu e o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Se a oposição tiver munição estocada, pode abrir a campanha na ofensiva, embora Lula venha conseguindo pular fogueiras desse tipo sem queimar os pés nas brasas.