Título: CPI PEDE INDICIAMENTO DE 79
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 21/06/2006, O País, p. 3

Relatório inclui Palocci e Okamotto, mesmo sem provar ligação deles com bingos

Apoucos dias de completar um ano de criação, a CPI dos Bingos foi encerrada ontem com uma vitória da oposição. Depois de uma intensa guerra de bastidores, PSDB e PFL conseguiram reconquistar a maioria na comissão e acabaram aprovando até com votos de governistas (12 votos a dois) o relatório do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). O documento pede ao Ministério Público o indiciamento de 79 pessoas ¿ entre elas o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) e o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, mesmo sem provar ligação deles com os bingos. Também foi pedido o indiciamento de quatro empresas suspeitas de envolvimento numa lista extensa de denúncias investigadas, que foi muito além dos bingos e que levou a comissão a ser conhecida como a CPI do Fim do Mundo.

A oposição comemorou a vitória sobre o governo, mas, para não correr riscos, teve que abrir mão dos pedidos de indiciamento do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e do chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Eles são acusados de participar do suposto caixa dois do PT na prefeitura de Santo André. Mesmo pressionado, o relator da CPI não incluiu os dois no relatório. Também ficou de fora a proposta de regulamentação dos bingos, que não agradou nem ao governo nem à oposição e foi retirada.

Derrotado, o PT desqualificou o relatório e adotou o discurso de que o comportamento da oposição não surtiu efeito nas pesquisas que apontam a liderança de Lula na sucessão presidencial. O senador Tião Viana (PT-AC) disse que o governo não recorrerá à Justiça para tentar derrubar o relatório, que considera fora do foco da CPI, mas deu a entender que os denunciados o farão:

¿ É um relatório pífio. Qualquer um que recorrer consegue anulá-lo.

Já a oposição espera tirar proveito do documento e admite que vai usá-lo na campanha do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin.

¿ Na campanha, toda denúncia será explorada ¿ disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Governo liberou votos da bancada

Apesar do placar dilatado, a vitória dos oposicionistas na CPI foi conquistada apenas momentos antes do início da sessão. Durante todo o dia, governo e oposição travaram um duelo pelo voto do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), vice-presidente da CPI. Há dois meses sem aparecer no Congresso, sua ausência tinha permitido ao governo vencer votações de requerimentos.

Quando Mozarildo pisou na comissão, o governo jogou a toalha e liberou os senadores da bancada e da base aliada para votar como quisessem. Para os governistas acabou sendo melhor optar pelo texto do relator do que correr o risco de ver o voto em separado de Álvaro Dias ser aprovado. Esse voto incluía Dirceu e Gilberto Carvalho entre os indiciados e pedia investigações sobre o presidente Lula. Com medo de um possível desgaste à beira do início da campanha eleitoral, a maioria mudou o voto.

Garibaldi entrou no plenário da CPI com duas versões do relatório ¿ uma tinha os nomes de Dirceu e Carvalho e a outra não. Ele, então, revelou sua decisão de deixar os dois nomes de fora e acabou apoiado pela oposição:

¿ Eu não sou partidário do presidente Lula. É um problema de consciência, não posso sugerir o indiciamento de um homem que não merecia ter sua conduta tipificada. Não estou defendendo a inocência dele.

O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), que não escondia o descontentamento pelas ausências dos nomes de Dirceu e Carvalho, acabou deixando a CPI satisfeito:

¿ Sempre disse que, antes de chegar ao fim do mundo, a CPI chegaria à verdade.

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