Título: UM `SUPERGATO¿ NA PETROBRAS
Autor: Jorge Martins, Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 22/06/2006, Rio, p. 13

Ladrões ligam mangueiras a tanque da Refinaria de Duque de Caxias para furtar gasolina

Nem mesmo a segunda maior refinaria do país escapa da maré dos ¿gatos¿. Agentes do serviço de segurança da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada, descobriram na noite de terça-feira um ¿supergato¿ e, com a ajuda da Polícia Militar, prenderam em flagrante três homens que furtavam gasolina de um dos tanques da Petrobras. A prisão poderá levar a polícia a identificar uma quadrilha que há pelo menos dois anos furta combustível da refinaria, com a participação de funcionários terceirizados da estatal. Só este ano, segundo a polícia, foram realizados pelo menos 30 furtos, totalizando cerca de 900 mil litros de combustível. De acordo com dados da Secretaria estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, a quantidade furtada corresponde a 12% do consumo diário de gasolina no estado, que é de 7 milhões de litros.

A Assessoria de Comunicação Social da Petrobras alegou desconhecer outros casos. Este seria o primeiro nos 52 anos de existência da estatal. Mas, segundo o delegado André Drumond, da 60ª DP (Campos Elísios), existe um inquérito de 2004 sobre furto de combustível na Reduc:

¿ A quadrilha agiu do mesmo modo, mas na época os ladrões conseguiram fugir e apreendemos apenas a carreta. Mas este ano a empresa acredita que ocorreram pelo menos outros 30 furtos semelhantes, causando um prejuízo de cerca de 900 mil litros de combustível ¿ disse o delegado.

Segundo a Petrobras, foi criado um grupo para investigar o que ocorreu e identificar os responsáveis.

Cem metros de `gato¿ do tanque à carreta

Com a ajuda de mangueiras de incêndio da própria Reduc, os ladrões foram flagrados, na noite de terça-feira, retirando combustível de um dos tanques e abastecendo uma carreta com capacidade para 40 mil litros de combustível, estacionada junto ao muro dos fundos da refinaria, na Estrada Orbel Fabor. No momento da prisão, o sistema montado pela quadrilha já havia retirado 20 mil litros de gasolina, avaliada em R$40 mil. Conectada a um registro na base da unidade de processamento (tanque onde é armazenado combustível com impurezas), a mangueira percorria cem metros até o muro, por cima do matagal. Para esconder o ¿gato¿ no único trecho do trajeto em que passa por uma rua interna da refinaria, a quadrilha utilizou uma manilha de águas pluviais para a passagem da mangueira. O combustível estava misturado com água, porque ainda seria purificado na unidade de processamento que retira as impurezas da gasolina.

Peres de Carvalho Martins, de 38 anos, Gilson Leal Rodrigues, de 31 e Salatiel Medeiros de Araújo, de 37 anos, foram autuados por furto qualificado e formação de quadrilha. Em depoimento, eles negaram participação no crime. Gilson e Salatiel contaram que estavam em um bar, com Peres, e ao retornarem para casa viram a carreta estacionada. Ainda de acordo com os presos, eles teriam pensado tratar-se de um amigo e, ao se aproximarem, foram surpreendidos por homens armados que fizeram disparos para o alto e os prenderam. Segundo a polícia, no entanto, os três homens foram flagrados em cima do veículo. Salatiel já respondeu a inquéritos por furto, em 1998, e lesão corporal culposa, em 1993. Os outros dois presos não têm antecedentes criminais no Estado do Rio. A carreta, placa KTC 6995 de Barra Mansa, pertence a Frederico Augusto Bruno Soares, que deverá depor hoje.

¿ O veículo estava alugado por uma empresa e os responsáveis serão ouvidos ¿ disse o delegado.

Segundo agentes de segurança da Reduc, a carreta teria a bandeira da empresa paulista Petrosol. Ainda de acordo com os agentes, os três presos receberiam R$2 mil cada. No momento do flagrante, os três disseram que a carreta abastecida seria entregue ao motorista da empresa Petrosol que os aguardava na Rodovia Washington Luiz. O motorista estaria com outros quatro envolvidos, que não foram encontrados pela polícia.

Ontem de manhã, as mangueiras utilizadas para fazer o ¿gato¿ ainda estavam jogadas na área da Reduc junto ao muro dos fundos. O delegado esteve na refinaria e, após o depoimento de um dos funcionários, identificou seis trabalhadores terceirizados envolvidos no crime. Eles trabalham na manutenção, na segurança e na limpeza da Reduc, mas a polícia ainda não identificou quem seria o receptor do combustível roubado.

¿ A gasolina poderia ser levada diretamente para postos de gasolina ou misturada para depois ser vendida ¿ diz o delegado Drumond.

O esquema, que conseguiu burlar sensores de presença instalados ao redor dos tanques, vinha sendo observado pela segurança patrimonial da Reduc há dois meses. Segundo o delegado, diante da informação de que agiriam na noite de terça-feira, foi pedido auxílio a PMs e a agentes de um posto da corregedoria do Detran que funciona dentro da Reduc.