Título: Balcão moderno
Autor: Míriam Leitão
Fonte: O Globo, 22/06/2006, Economia, p. 22

Enquanto a economia mundial passa por tremores que repercutem no mercado financeiro local, produzindo perda de valor das ações em bolsa, a economia brasileira divulga semanalmente alguns bons números. O comércio está vendendo mais, a renda continua crescendo, o nível de ocupação melhora, o PIB crescerá mais que no ano passado. O comércio tem uma boa história para contar.

Esta semana, o IBGE divulgou números positivos para o varejo: as vendas aumentaram 7,4% em relação a abril de 2005. O varejo representa 12% do PIB e tem recebido muitos investimentos estrangeiros, diz um relatório da MB Associados. Em 2005, houve investimentos externos de US$2,8 bilhões no comércio brasileiro, o dobro do ano anterior, e, neste ano, continua em crescimento. ¿O dinamismo do setor está exigindo das empresas muita criatividade para aumentar a competitividade com a chegada e a consolidação dos grupos estrangeiros¿, afirma a MB.

Uma das formas dessa competição é através da formação de rede de empresas para negociar com mais força com os fornecedores, um fenômeno que já existe no país há mais de dez anos, mas ganhou força agora. Para se ter uma idéia do impacto, a MB Associados conta que a rede Smart, formada pelo Grupo Martins para fidelizar os pequenos comerciantes em 2000, já fatura R$3 bilhões em 801 lojas em dez estados brasileiros. Os grandes grupos estão também lançando lojas em formato menor, como o Pão de Açúcar Especial e Carrefour Baiano, para não perder espaço no mercado.

As transformações modernizadoras que começaram logo após a estabilização em 94, que ganharam fôlego após a crise de 99, estão agora em pleno andamento, podendo aproveitar um momento em que o consumidor está com mais dinheiro no bolso e mais crédito na praça.

Ainda que o discurso político sempre separe os períodos administrativos como compartimentos estanques ¿ principalmente na era petista ¿ o que se vê, na realidade, é a continuidade de uma mesma estratégia de política econômica, mantendo os avanços que foram conseguidos após a estabilização.

O varejo tem a vantagem também, explica um Boletim do Bradesco sobre o mesmo tema, de que a economia está num bom momento. ¿Este é o 20º mês consecutivo de crescimento do comércio varejista.¿ Isso é resultado de várias boas notícias: a renda média cresceu 3%, a ocupação, 2,1%, os empregos de carteira assinada, 4,8%; a taxa de desemprego recuou 0,57% e a inflação caiu. A oferta de crédito cresceu e a um custo menor, pois os juros caíram. O Bradesco prevê a continuidade dessa boa fase.

A MB Associados mostra outros avanços do comércio, como o aumento da utilização dos serviços financeiros, através da associação com financeiras e bancos. Já era muito usado no varejo e agora é também usado no atacado. O comércio eletrônico tem sido cada vez mais utilizado como canal de comercialização. ¿Setores como automobilístico e de transporte aéreo, além dos tradicionais (CDs, livros, flores), vêm induzindo cada vez mais a utilização desse mecanismo.¿ A diversificação de produtos oferecidos no mesmo estabelecimento não é uma arma apenas dos supermercados, mas de outras empresas do setor.

O comércio não tem apenas bons números conjunturais, mas uma história de modernização de práticas que permite que aproveite melhor o bom momento. O abalo externo pode produzir turbulências transitórias, mas não põe em risco esses avanços.