Título: COMÉRCIO EXTERIOR FICA PREJUDICADO
Autor: Henrique Gomes, Eliane Oliveira, Cristiane Jungblu
Fonte: O Globo, 22/06/2006, Economia, p. 22

Cancelamento de vôos atrapalha exportação de frutas, flores e calçados

BRASÍLIA. O cancelamento de vôos da Varig já começa a afetar a pauta brasileira de exportações, especialmente nos setores de frutas, flores e calçados. O impacto ainda não pode ser dimensionado, uma vez que os acontecimentos são bastante recentes, mas especialistas e fontes do próprio governo acreditam que também deverão ser atingidos os embarques de camarão, sêmen bovino e outros produtos que, de forma geral, vão para o exterior por via aérea.

¿ Certamente os exportadores serão prejudicados com o aumento de custos, o que reduzirá sua competitividade no mercado internacional ¿ disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) José Augusto de Castro.

Ele citou como exemplo o setor de calçados. A Varig, lembrou, é tradicional transportadora do produto, especialmente o fabricado no Sul do país. Castro lembrou que a empresa tem acordo com os calçadistas, com vantagens que os levam a descartar o transporte marítimo.

Custo adicional para enviar mercadoria por terra

A suspensão dos vôos da Varig que saíam do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, já causa problemas para as exportações calçadistas. Como a alternativa é buscar outras companhias, em sua maioria estrangeiras, as empresas precisam remeter os produtos de caminhão, em viagem de dois dias, até São Paulo, o que dá um custo adicional aproximado de US$0,26 por quilo, de acordo com o despachante Moisés Bruno, de Novo Hamburgo (RS).

¿ Pelo menos por enquanto, não estamos tendo problemas com a Europa, talvez por causa da Copa do Mundo. Os vôos para Frankfurt, na Alemanha, estão normais. No entanto, para os Estados Unidos, o México e a Colômbia não há outro caminho, senão trocar de companhia ¿ disse Bruno, acrescentando que há problemas também na importação de insumos.

Outro problema enfrentado é a lotação dos espaços nos vôos de carga para outros países. Nesse caso, a saída é pagar por excesso de bagagem em aviões de passageiros.

¿ A questão é que, com base na programação dos vôos, combinamos prazos de entrega. Por isso, precisamos correr para não quebrarmos contratos. Só que outros vôos, já tomados, trazem como ônus o pagamento por excesso de bagagem ¿ disse Euvaldo Bringel Olinda, presidente do Instituto Frutal.

Segundo Olinda, dependendo do tipo de fruta, os exportadores preferem o transporte rodoviário, como do melão e do caju. Mas, no caso das demais frutas, não há como chegarem em bom estado a São Paulo, por causa do tempo de viagem, para depois seguirem para a Europa e os EUA, por exemplo.

¿ Já sentimos o impacto do cancelamento dos vôos, pois nossa preferência era a Varig. Trata-se de uma empresa nacional importante, que nos dava um tratamento diferente de outras companhias ¿ afirmou o presidente da Associação dos Exportadores de Flores de Petrolina (PE), Armando Malul.