Título: Passageiros da Varig tentam garantir viagem
Autor: Fabiana Ribeiro, Aguinaldo Novo e Ana Cecília
Fonte: O Globo, 22/06/2006, Economia, p. 24

Usuários trocam bilhetes e buscam vôos de outras companhias, mas para alguns destinos só há vaga após outubro

RIO e SÃO PAULO. Com medo de terem seus vôos cancelados pela Varig, muitos consumidores tentam trocar seus bilhetes ou reservar lugar em outras companhias. Mas o corre-corre não garante a viagem. Segundo agências de viagem de São Paulo, hoje é quase impossível encontrar passagens a bons preços. A dificuldade maior está nas rotas internacionais antes operadas pela Varig ¿ um problema que tende a se agravar com as férias, a partir de julho.

Apesar do aumento da procura, representantes do setor dizem que ainda não há determinação das outras companhias aéreas para suspender os descontos já em vigor.

¿ O problema é que o consumidor não encontra mais bilhetes nas classes mais baratas. Há destinos, principalmente na Europa, que só têm vaga a partir de outubro. A falta de assentos faz com que o consumidor pague mais. Mas não está previsto qualquer aumento de preços ¿ disse Sérgio Righi de Castro, diretor da operadora Natural Mar Turismo.

Reembolso pode demorar ou nem ocorrer, diz agente

Segundo Felipe Alves, agente da Valtat Viagens e Turismo, o cenário de incerteza já levou muitos consumidores a comprarem novos bilhetes. Ele lembra que é possível pedir o cancelamento do bilhete e aguardar o reembolso, que pode demorar mais de 30 dias ou até não ocorrer ¿ e ainda haverá multa. Righi de Castro lembra que a crise da Varig afeta as agências, que querem vender pacotes mas não há vôos.

A Varig já saiu dos pacotes de Urbi et Orbi e CVC, por exemplo. Os próprios consumidores começaram a rejeitar a companhia, dizem as agências. Para Righi de Castro, isso se deve ao fato de, em caso de falência, o consumidor ser o último a ser ressarcido, após trabalhadores e fornecedores.

Em seu site, a Varig está vendendo normalmente passagens para destinos nacionais e internacionais na semana que vem, inclusive em rotas que foram canceladas esta semana. Nas compras por telefone também é possível adquirir um bilhete da Varig para semana que vem, mas a companhia avisa que é melhor ligar a partir de segunda-feira para confirmar os vôos.

O Grupo Águia, dono da agência Planeta Brasil ¿ a operadora dos pacotes para a Copa do Mundo com passagens da Varig ¿ divulgou apenas que ¿tomará todas as providências necessárias¿ para atender aos clientes.

Hoje, em Brasília, o procurador da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Flávio Ribeiro, e o diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, Ricardo Morishita, vão discutir a ampliação do plano de contingência, junto com outros representantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.

Ribeiro se reuniu ontem com a diretora-executiva da Fundação Procon de São Paulo, Marli Aparecida Sampaio, e a técnica responsável pela área de Serviços Privados do órgão, Marcia Cristina Oliveira. Ele prometeu analisar as ponderações do Procon sobre o Smiles, programa de milhagens da Varig. Para a Anac, ele não tem valor legal e é um brinde da empresa. Já o Procon afirma se tratar de direito do consumidor, que teria pago pelas milhas. Marcia defende que o plano de emergência inclua uma solução para o Smiles.

Ela não descartou a possibilidade de o Procon enviar fiscais aos aeroportos para acompanhar a aplicação do plano de emergência. Mas ressaltou que isso depende de queixa formal de algum passageiro. Segundo o Procon-SP, se houver uma paralisação total, a Anac será responsável por realocar os passageiros em outros vôos. Quem se sentir prejudicado poderá entrar na Justiça com uma ação contra a agência, por danos morais e materiais.

Já Marcos Diegues, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), preocupa-se com quem tem bilhete da Varig. Ele orienta o consumidor a tentar cancelar o bilhete o mais rapidamente possível, mas ressalta que não há garantia contra prejuízos, pois a Varig pode não ter dinheiro em caixa para ressarcimento. Para quem comprou o bilhete parcelado, Diegues aconselha a suspender imediatamente o pagamento:

¿ O consumidor deve formalizar a suspensão do pagamento, seja por cheque ou cartão de crédito, em carta registrada à Varig, informando que está fazendo isso por causa da situação da empresa.

Ontem, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, quem chegou cedo e persistiu acabou conseguindo embarcar, pela Varig ou com bilhete endossado por outras companhias. Apesar do cancelamento do vôo de 21h30m para Tel-Aviv via Milão, o empresário Michael Malogolowkin foi encaixado em avião da Lufthansa, para Frankfurt:

¿ Tive muita sorte, porque vou embarcar 15 minutos antes do previsto, para o casamento da minha neta.

A professora Regina Helena Geaquinto, que saiu de Vitória para voar às 15h do Rio para Brasília, só conseguiu embarcar às 20h. E ainda ficou feliz de poder chegar ao seu destino no mesmo dia. E a esteticista Maria Irene Pereira, que voltaria para Miami ontem, conseguiu endosso pela American Airlines.

COLABOROU Mariza Louven