Título: SALÁRIO SOBE, MAS DESEMPREGO PERMANECE ALTO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 23/06/2006, Economia, p. 27

Rendimento avançou até 7,7% em maio, enquanto taxa de desocupação no país passou de 10,4% para 10,2%

O mercado de trabalho brasileiro apresentou sinais contrários na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio, divulgada ontem pelo IBGE. O rendimento médio real subiu para R$1.027,80, um avanço de 7,7% sobre o mesmo mês do ano passado ¿ a maior alta desde que a pesquisa existe (2002) ¿ e de 1,3% frente a abril. Já a taxa de desemprego praticamente não se mexeu: passou de 10,4% da força de trabalho em abril para 10,2%. Assim, o índice se igualou ao de maio de 2005, num comportamento que não se via desde abril de 2004. A taxa vinha caindo na comparação anual desde então.

¿ A taxa não ter começado a cair em maio frustrou as expectativas criadas pela própria pesquisa. Esperávamos uma queda maior no desemprego ¿ disse Cimar Azeredo, coordenador da PME, que considerou a ligeira queda como estabilidade estatística.

Melhora do salário reflete mais emprego formal

Mas se o mercado não absorveu mais desempregados, que somaram em maio 2,2 milhões de trabalhadores, a qualidade da ocupação subiu. Segundo Azeredo, o emprego com carteira cresceu 0,4% ante abril e 3,8% sobre maio de 2005:

¿ O rendimento sobe há quatro meses na comparação com o mês anterior e há 11 meses quando se olha o mesmo mês do ano anterior. E a melhora no salário veio desse emprego formal, que paga mais.

Enquanto os empregados sem carteira ganham, em média, R$634,40; os que têm registro recebem R$1.042,80.

¿ É um efeito da composição da massa de trabalhadores. Com mais empregados com carteira, o rendimento reagiu ¿ disse o economista Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Renda ainda não alcançou o nível de julho de 2002

A massa salarial (soma dos rendimentos) subiu 8,3%, na maior alta desde novembro. A diferença, segundo Ávila, é que no ano passado a massa subia pelo aumento de trabalhadores e agora vem da recuperação dos salários, que, mesmo assim, ainda não alcançaram o nível de julho de 2002, quando a renda chegou a R$1.145,82.

O diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia, cita outro motivo para o rendimento mais alto: o aumento de 16,5% no salário-mínimo em abril. Para ele, mesmo sem queda no desemprego, o mercado começa a se aquecer. A alta de 0,8% no número de pessoas trabalhando (mais 133 mil ocupadas de abril para maio) mostra isso.

¿ Parece que ainda não há certeza dos investidores para começar a contratar mais. Só houve reação forte em Belo Horizonte e Porto Alegre. Nas outras regiões (Recife, Salvador, Rio e São Paulo), a ocupação ficou estável ¿ disse Azeredo, que prevê queda maior do desemprego a partir de junho.

Ávila, do Ipea, diz que o corte de juros (Selic) e a economia mais forte que em 2005 tornam a expectativa do técnico do IBGE mais fácil de se concretizar.