Título: TRÊS ANOS DEPOIS, O PRIMEIRO PRESÍDIO FEDERAL
Autor: Ana Paula de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/06/2006, O País, p. 11
Penitenciária de segurança máxima é inaugurada sem bloqueadores de celular e, na hora, falta energia
CATANDUVAS (PR). O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pretende confinar em Catanduvas, no noroeste do Paraná, onde inaugurou ontem o primeiro presídio federal de segurança máxima, os criminosos mais perigosos do país. Esse presídio poderá abrigar também o traficante Fernandinho Beira-Mar e os chefes da facção criminosa responsável pela recente onda de ataques em São Paulo, como Marcos Herbas Williams Camacho, o Marcola. Os presídios federais foram uma promessa do presidente Lula feita logo que assumiu, mas o primeiro só começa a funcionar agora, mais de três anos depois.
¿ Não pretendemos resolver o problema do excesso da população prisional. São vagas qualitativas para fazer intervenções cirúrgicas e tirar os cabeças das quadrilhas e chefes de organizações criminosas ¿ explicou o ministro.
O ministro não quis adiantar se Marcola e Beira-Mar serão os primeiros a serem transferidos.
¿ Não vou fulanizar. Cabe ao Poder Judiciário e à Justiça Federal a decisão ¿ disse.
O presídio inaugurado ontem tinha previsão de ser entregue em dez meses, mas foi concluído em 15. Segundo o responsável pela construção, João Luiz Félix, modificações no projeto atrasaram a conclusão da obra:
¿ Sempre tinha um detalhe a ser modificado, desde a construção, com vários itens de segurança que tivemos que cumprir, como concretagem nos pisos e no teto, com 50 metros.
A chegada dos primeiros presos, segundo o diretor da Penitenciária Federal de Catanduvas, Ronaldo Urbano, deve ocorrer até 15 de julho. Com capacidade para 208 presos em celas individuais, a penitenciária possui 200 câmeras que vão monitoram os presos 24 horas.
Ainda não há uma decisão sobre o uso de bloqueadores de telefones celulares ou de rastreadores. Os advogados vão falar com seus clientes por interfone, separados por um vidro.
¿ O primeiro objetivo é evitar a entrada de celular. Para isso, estamos dotando o presídio com detectores de metal, raio-x, coleta de impressão digital, aparelhos de raio-x e espectrômetros ¿ disse Urbano.
Diretor contradiz ministro da Justiça
Até ontem espectrômetros, aparelhos que rastreiam vestígios de drogas, armas químicas e explosivos, não haviam sido entregues.
O diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Maurício Kuehne, afirmou que estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Ceará já manifestaram interesse em transferir presos mais perigosos:
¿ Até agora recebemos em caráter oficial um pedido do estado de Mato Grosso.
Em seu discurso, Thomaz Bastos disse que a prisão é a mais segura do país.
¿ É um presídio à prova de rebeliões e à prova de fugas ¿ afirmou o ministro.
¿ Um presídio à prova de rebelião é meramente utópico. Não podemos dizer que é à prova de rebelião na medida que pode ocorrer uma ¿ reagiu Kuehne, seu assessor.
Durante o discurso do governador do Paraná, Roberto Requião, houve queda de energia. O ministro minimizou:
¿ O sistema não funciona sem energia elétrica, mas não irá faltar energia.
(*) Especial para O GLOBO