Título: MANTEGA: CRISE NOS MERCADOS DURA MAIS 2 MESES
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 24/06/2006, Economia, p. 31

Ministro da Fazenda diz que Brasil vem mostrando mais resistência à turbulência porque tem sobra de dólares

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a turbulência que atinge o mercado financeiro mundial desde maio, causada pelas incertezas sobre a intensidade do ajuste monetário nos Estados Unidos, deve se dissipar nos próximos dois meses, no máximo. Segundo ele, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve fazer mais dois aumentos nos juros básicos, de 0,25 ponto percentual cada ¿ na reunião da próxima semana e na prevista para agosto. Isso levaria a taxa dos EUA para 5,5% ao ano.

¿ Depois disso, não haverá mais elevações e já haverá uma acomodação dos capitais nos mercados internacionais ¿ previu o ministro ontem, depois de falar dos bons fundamentos da economia brasileira em evento sobre tecnologia bancária.

¿ O Brasil hoje está demonstrando uma grande capacidade de resistência a turbulências internacionais. É uma situação inédita, porque hoje o Brasil tem reservas e produz superávits comercial e nas transações correntes. Está sobrando moeda forte no país.

Segundo ele, o Brasil tem hoje uma ¿sobra¿ entre US$30 bilhões e US$35 bilhões anuais, o que lhe dá tranqüilidade para cumprir seus compromissos externos.

¿ É em função disso que as turbulências hoje nos afetam só um pouquinho ¿ disse.

Impacto no risco-país de México e Rússia foi maior

Em sua palestra a banqueiros e empresários, Mantega apresentou uma série de indicadores e comparou os efeitos da crise atual no Brasil com o de outros países emergentes. O ministro citou o risco-país, que no caso brasileiro subira 16,2% entre 10 de maio e 16 de junho, abaixo das altas verificadas no mesmo indicador da Turquia (41,8%), do México (24,2%) e da Rússia (23%).

Mantega comparou ainda a desvalorização do real em relação ao dólar com a de outras moedas, e as perdas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com as das bolsas desses países, e concluiu:

¿ Essas flutuações no Brasil são menores do que em outros países, como por exemplo o México, a Índia, que são países consideradas sólidos, às vezes até mais sólidos que o Brasil.