Título: GUIA DOS TUCANOS EM 98 VAI ORIENTAR COMPORTAMENTO DE LULA NA CAMPANHA
Autor: Cristiane Jungblut e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 25/06/2006, O País, p. 4

Assessores temem vigilância da oposição e do TSE e querem evitar deslizes

BRASÍLIA. Favorito nas pesquisas de intenção de voto e certo de que nem a oposição e tampouco o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, deixarão passar em branco qualquer deslize, o presidente e candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva, foi orientado a cumprir à risca regras e restrições eleitorais. Antes crítico do comportamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como candidato à reeleição em 1998, Lula vai usar justamente as regras adotadas pelos tucanos como guia de suas ações.

Segundo assessores da Presidência, a idéia é tomar como base o que foi feito em 1998. Candidato oficial, Lula estará proibido de participar de inaugurações, sob pena de impugnação de sua candidatura. A estratégia será substituir as viagens de inaugurações por ¿viagens de inspeção¿ de obras e projetos. As viagens explicitamente de campanha serão feitas nos fins de semana.

Viagens ao exterior para se manter no noticiário sem risco

O ritmo frenético de viagens do primeiro semestre deverá ser reduzido. Em julho, a maioria das viagens programadas é para fora do Brasil. Com elas, Lula mantém espaço no noticiário sem ser acusado de fazer campanha pelo país. Em julho, o presidente começará viajando para a Venezuela. Depois participará do encontro do G-8 (sete países mais ricos do mundo e a Rússia), em São Petersburgo, e terminará no Peru, para a posse do presidente Alan García.

O presidente do TSE insiste em frisar que os candidatos que concorrem à reeleição, sem a obrigação de deixar o cargo, têm a seu favor o que chama de mais valia. Já negou sete pedidos de publicidade institucional do governo federal. Semana passada, polemizou ao declarar que aumentos para servidores públicos estão proibidos nos 180 dias que antecedem a eleição.

¿ A virtude está no meio termo, no equilíbrio. E, mais do que ninguém, o candidato à reeleição tem que estar mais esperto que o candidato comum para evitar impugnações. O antagonismo é latente em toda eleição ¿ disse Marco Aurélio.

Responsável por analisar a legislação e decidir a agenda de Lula como presidente, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que a legislação será cumprida.

¿ A preocupação é estar atento ao que não se pode fazer ¿ disse Tarso Genro, lembrando que não se tem controle sobre o que pode ocorrer numa cerimônia pública: ¿ Se ocorrerem vaias, por exemplo, por acaso vai ser crime eleitoral da oposição? Claro que não.

A decisão de deixar atos de campanha para os fins de semana foi de Lula. Para especialistas em legislação eleitoral, da forma como que estão sendo conduzidos os julgamentos no TSE, a cautela é a melhor opção.

Ressarcimento de gastos com uso de Aerolula

Preocupada, a área jurídica do PT sugeriu que a coordenação de campanha crie uma equipe com força suficiente para dizer o que Lula não deve fazer. Tarso disse que as despesas ligadas à campanha serão ressarcidas pelo PT. Como em 1998, o avião presidencial continuará sendo usado por Lula, mas os gastos com combustível em viagens de campanha terão que ser devolvidos pelo partido. Ou o ressarcimento equivalente ao aluguel de um jatinho.

A oposição não perderá a chance de tentar enquadrar Lula em três pontos principais da legislação eleitoral: abuso de poder político, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.

Uma das preocupações no Planalto é com os rompantes de Lula em seus discursos. O presidente promete se conter e não falar sobre eleições. Mas ele já foi multado em 2004, quando pediu votos em cerimônia oficial à então candidata à reeleição em São Paulo, Marta Suplicy.

¿ O presidente não vai mudar sua forma de discurso. Mas não vai falar de eleição em eventos do governo ¿ diz Tarso.