Título: SALÁRIO SOBE, MAS EVASÃO PERSISTE NO PA
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 25/06/2006, O País, p. 15

BREVES (PA). Nos nove municípios que fazem parte da Unidade Regional do Marajó, no Pará, o Fundef ainda não conseguiu acabar com o problema da evasão escolar. Entre 30% e 40% dos alunos matriculados abandonam as salas de aula. Os motivos podem ser encontrados na própria geografia do arquipélago. Na maioria dos municípios o único transporte para as escolas são canoas. Visando a receber o Bolsa Família, os pais dos alunos matriculam as crianças, mas depois não conseguem fazer com que os filhos permaneçam na escola.

É uma rotina estafante. Rodrigo Lobato, de 13 anos, sai todo dia de canoa da comunidade de Santo Amaro, do outro lado do Rio Pararaú, que banha Breves, para chegar até a Escola Estevão Gomes. Atravessa o rio sem proteção, passando próximo a grandes navios coreanos que vêm buscar madeira no município. Como ele, mais 12 alunos também fazem o mesmo percurso para estudar num turno que já não deveria mais existir, o intermediário.

¿ A gente fica obrigado a criar horários alternativos. Quando chega a época de colheita do açaí e da pesca do camarão, quase metade das crianças sai das escolas, pois são chamadas para ajudar os pais no trabalho ¿ diz a diretora regional de Educação do Marajó, Jaqueline Aguiar.

Melgaço, Curralinho, Portel, Bagre, Anajás, Gurupá, Chaves, Afuá e Breves fazem parte da unidade regional do Marajó. Eles concentram 34 mil alunos, de acordo com o censo escolar realizado no ano passado. Em Portel, o Fundef não resolveu metade dos problemas educacionais do município. Os salários dos professores costumam atrasar e várias escolas ficam paradas boa parte do ano, segundo a diretora.

Mas é em Breves, o maior município de todos, que o Fundef tem a face mais visível. Para o bem e para o mal. Segundo a diretora regional, com o Fundef houve um acréscimo anual de 30% de alunos nas escolas do município. Segundo ela, todas estão informatizadas e o salário dos professores é o melhor do arquipélago do Marajó, com professores que têm curso superior recebendo um salário de R$2 mil, embora o sindicato dos professores alegue que a categoria não recebe reajuste há três anos e que o vencimento básico inicial é de R$360.

Além disso, há denúncias de desvio de verbas do fundo. O Ministério Público Federal aceitou denúncia feita por um ex-assessor do prefeito Luiz Rebelo (PSDB) de desvio de R$260 mil oriundos do Fundef para um posto de gasolina que pertence à família do prefeito.