Título: Bancos aumentaram em 33,4% as suas provisões para inadimplência
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 25/06/2006, Economia, p. 32

Reservas para crédito duvidoso cresceram mais do que volume de financiamentos

No rasto da forte expansão do crédito nos últimos meses, cresceu também a reserva dos bancos para fazer frente a um aumento na inadimplência. Nas seis maiores instituições do país, o volume de financiamentos cresceu em média 22% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, as provisões para créditos duvidosos aumentaram 33,4%, segundo levantamento da consultoria Austin Rating.

¿ As provisões cresceram mais do que o volume de empréstimos. É um indicador positivo, significa que os bancos estão se preparando para o caso de um repique na inadimplência ¿ afirma Erivelto Rodrigues, da Austin.

Segundo Rodrigues, os bancos têm mudado sua carteira de crédito, apostando com mais força em pessoas físicas e pequenas empresas, que oferecem risco maior e também ganho mais elevado.

Consignado ampliou poder de fogo dos bancos

Para Frederico Felipe Medeiros, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, a nova estratégia está calcada na segurança propiciada pela carteira de crédito consignado, que tem inadimplência baixa e retorno satisfatório:

¿ Como têm uma carteira de qualidade, que é a do consignado, os bancos podem ser mais agressivos nas demais modalidades. Seu poder de fogo aumentou ¿ diz Medeiros.

Ele acrescenta que a rentabilidade dos bancos também cresceu, seja através dos juros altos praticados no crédito que não é consignado, ou por meio das demais taxas bancárias cobradas dos correntistas, já que a base de clientes aumentou.

Mas, daqui para frente, a tendência é que o crédito consignado cresça a um ritmo vez mais lento, acrescenta Eduardo Bastian, também da UFRJ. Em abril, o volume de empréstimos com desconto em folha era 57% maior do que no mesmo mês do ano anterior. Em dezembro, a taxa de expansão era de 84%.

A estimativa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) é que, no total, as operações de crédito tenham um acréscimo de 18% este ano, mesma taxa de 2005. Para Roberto Troster, economista-chefe da Febraban, é natural que os bancos aproveitem o bom momento para ampliar sua oferta em outras modalidades de financiamento que não a consignada. A inadimplência, desde que devidamente incorporada nas provisões, não preocupa, diz Troster.

Vice-presidente da Federação Nacional das Financeiras (Fenacrefi), José Arthur Assunção não é tão otimista. Ele garante que a inadimplência nunca esteve em níveis tão altos e que essa é a razão para os juros ao consumidor não terem recuado no mês passado. O calote subiu, diz Assunção, porque o consumidor viu seu salário diminuir ao se comprometer com o crédito consignado:

¿ O reajuste do salário-mínimo e a queda de preços na cesta básica deram uma folga para as classes D e E. Mas nosso público é a classe C, que ainda tem o orçamento apertado.

Juros médios ao consumidor subiram para 7,52% em abril

Na pesquisa mensal da Anefac, os juros médios ao consumidor subiram para 7,52% ao mês em maio, contra 7,48% em abril. Para Miguel Ribeiro de Oliveira, presidente da Anefac, a turbulência nos mercados financeiros também influenciou na alta das taxas. Os juros futuros dos depósitos interbancários ¿ que servem de referência para as financeiras ¿ aumentaram um ponto percentual, em termos anuais, desde o início de maio.