Título: TARIFA AÉREA FICARÁ MAIS ALTA COM CRISE DA VARIG
Autor: Geralda Doca e Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 25/06/2006, Economia, p. 35

Redução de oferta de assentos e aumento da demanda são fatores de pressão sobre os preços, dizem analistas

BRASÍLIA e RIO. O consumidor já pode se preparar: as passagens aéreas subirão a partir das férias de julho e durante todo o segundo semestre deste ano. A saída da Varig do mercado ou mesmo a redução drástica das operações como tem acontecido, será um fator adicional de pressão nas tarifas, pois a demanda continua aquecida, num mercado agora com apenas duas empresas. Enquanto a oferta de assentos subiu 19,7% entre janeiro e maio deste ano, a procura teve uma alta de 21,2%. A expectativa do setor é que a procura no próximo mês supere a de janeiro.

¿ Se o país ficar com apenas duas empresas, vamos ter problemas de concorrência e as tarifas vão subir ¿ afirmou o diretor de Assuntos Internacionais da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi, acrescentando que o ideal para um país com dimensões continentais como o Brasil é contar com quatro grandes empresas aéreas.

Segundo os especialistas do setor, 81% da demanda doméstica já estão nas mãos de TAM e Gol. Com o provável desaparecimento da Varig, a dominação chegará a 95%, em cerca de 49 municípios brasileiros.

¿ Com um concorrente a menos e aumento da procura, as promoções, que costumam cair no segundo semestre, período com maior movimento, ficarão ainda mais restritas ¿ disse o consultor do setor Paulo Sampaio.

Para ele, os preços só cairão novamente, na baixíssima temporada, entre março e junho de 2007.

Diferença de preços já pode ser observada

A economista Lúcia Helena Salgado, do Ipea, destacou que a divisão do mercado entre TAM e Gol implicará na redução das opções de escolha para o consumidor e da competição entre as empresas, com conseqüente piora na prestação do serviço:

¿ O consumidor ficará sujeito às condições de oferta e de preços de duas ou uma empresa, dependendo da região do país.

O impacto da derrocada da Varig, que cortou pela metade a malha doméstica, já é sentido no bolso do consumidor. Embora aumentos generalizados não tenham sido detectados pela Abav, eles já começam a ocorrer em alguns trechos ¿ especialmente naqueles em que uma única empresa passou a responder pela rota, sobretudo na Região Norte.

Segundo uma grande agência de Brasília, há duas semanas uma passagem de Brasília para Boa Vista, para o fim de junho ou o início da alta temporada era comprada por R$319 na Gol. Na manhã de quinta-feira, a tarifa web mais barata estava em R$620, para o dia 27, e R$670, para 6 de julho. A Varig, ao cancelar vôos, estava vendendo o trecho por R$580 ¿ mas chegou a ter assentos a R$398 e a R$420. A 40 minutos de Boa Vista, Manaus ¿ que mantém Varig, TAM e Gol ¿ na mesma categoria de tarifas é atendida a R$430 pela Gol e R$519 pela TAM. A Varig está cobrando R$450 pelo trecho.

Os consumidores já temem o prejuízo. Paulo Resende é sócio da agência Resende & Resende, e gasta cerca de R$6 mil por mês em viagens para São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul, entre outros destinos.

¿ O aumento nas tarifas será péssimo porque tenho muitos gastos com viagens. Mas isso é, na verdade, um contra-senso. Afinal, as demais companhias estarão com seus assentos lotados, já que a Varig deixa um espaço no mercado ¿ diz o empresário, que espera ao menos que o aumento de preço se traduza em melhoria nos serviços prestados.

A seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) está atenta às empresas aéreas, mas adianta que pouco poderá ser feito.

¿ O consumidor deverá sofrer prejuízos, mas os instrumentos legais dificilmente serão utilizados, pois não deverá ocorrer um aumento real dos preços ¿ disse Alberto Carmo Frazatto, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor.

Marcos Diegues, diretor jurídico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), confirma que os consumidores estão desamparados:

¿ O consumidor fica na mão: pode apenas reclamar aos Procons e não comprar as passagens ¿ disse.

Já o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse na quinta-feira que esse problema só será tratado por sua agência depois que toda a situação de emergência no embarque de passageiros for resolvida.

COLABOROU Fabiana Ribeiro