Título: DISPUTA VELADA ANTECIPA CAMPANHA NA ARGENTINA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 25/06/2006, O Mundo, p. 39

Ressurgimento do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna no cenário político assusta estrategistas da Casa Rosada

BUENOS AIRES. Há um mês, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, comemorou três anos de governo com uma gigantesca manifestação na Praça de Maio, interpretada como o lançamento de sua candidatura à reeleição em 2007. O clima na Casa Rosada era de otimismo, pois nada parecia ameaçar o projeto de poder do presidente. Poucos dias depois, o ex-ministro da Economia dos governos Kirchner e Duhalde (2002-2003), Roberto Lavagna, reapareceu em cena e atrapalhou a festa.

Críticas de Lavagna detonaram disputa

Embora ainda falte um ano e quatro meses para as eleições presidenciais, o ressurgimento de Lavagna levou o governo a reagir e acabou antecipando uma campanha que promete ser eterna. O ex-ministro não confirmou sua decisão de disputar a Presidência. Bastou romper o silêncio e lançar críticas a Kirchner para que o governo detonasse a disputa eleitoral.

Na visão de analistas ouvidos pelo GLOBO, apesar do crescimento do ex-ministro nas pesquisas nas últimas semanas (o economista teria entre 10% e 12% das intenções de voto), parece pouco provável que Lavagna consiga derrotar Kirchner. A imagem positiva do presidente oscila entre 60% e 70%.

¿ Lavagna tem um perfil que pode complicar o panorama para o governo. O ex-ministro conseguiu reunir apoios em vários partidos, tem uma experiência de gestão importante, foi o artífice da recuperação econômica e sócia de Kirchner nos êxitos da primeira etapa de governo e, sobretudo, tem uma excelente imagem no exterior ¿ afirmou a socióloga Graciela Romer, diretora da empresa de consultoria Romer e Associados.

No entanto, alertou Romer, ¿a reeleição de Kirchner ainda é o cenário mais esperado¿.

Primeira-dama poderia ser candidata

Além de Lavagna, outros nomes já estão em jogo nesta precipitada campanha. O ex-presidente e atual senador peronista Carlos Menem (1989-1999) assegurou que concorrerá.

¿ Em 2007 não haverá segundo turno, eu vou vencer ¿ disse Menem, que em 2003 venceu o primeiro turno com 24% dos votos e renunciou à sua candidatura antes do segundo turno. A grande dúvida dos opositores de Kirchner é saber quem sairá candidato, o presidente ou a primeira-dama, Cristina Fernández.

¿ A centro-esquerda terá um candidato ou uma candidata. Um pingüim ou uma pingüim ¿ brincou Kirchner que gosta de ser chamado de pingüim, em referência à província de Santa Cruz, sua terra natal.