Título: Sem terceira via
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/06/2006, O GLOBO, p. 2

As eleições presidenciais de outubro serão um plebiscito. A disputa real vai ficar restrita às candidaturas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PCdoB-PRB) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-PFL). Ao contrário do pleito de 2002, com as candidaturas de Anthony Garotinho e Ciro Gomes, não há no atual cenário uma candidatura alternativa capaz de romper essa polarização.

As candidaturas dos senadores Cristovam Buarque (DF), pelo PDT, e Heloísa Helena (AL), pelo PSOL, estão limitadas pela fragilidade de suas estruturas partidárias e apoios políticos. Nas pesquisas, Heloísa Helena chega a ter 8% das intenções de voto e Cristovam Buarque tem 1%. A senadora do PSOL tem espaço para crescer se conseguir simbolizar um voto de protesto. Os deputados Cesar Schimer (PMDB-RS) e Paulo Afonso Vieira (PMDB-SC), por exemplo, estão entre os que defendem esse voto de repúdio contra os petistas e os tucanos. Mas nada indica que Heloísa e Cristovam juntos sejam capazes de fazer a votação que tiveram Garotinho e Ciro em 2002, 29,7%. A responsabilidade de levar as eleições para o segundo turno será unicamente de Alckmin, candidato que está numa situação estável desde março, aparecendo nas pesquisas com cerca de 20% das intenções de voto. O quadro que se formou indica que a eleição será decidida no primeiro turno.

Apesar disso, esta campanha não será modorrenta como a da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998. A oposição vai manter os ataques e as denúncias contra o presidente e o PT. A eficácia desta estratégia eleitoral é duvidosa. Mas se ela não levar à vitória, segundo especialistas, serve pelo menos para manter alinhada uma fatia do eleitorado. Uma campanha negativa não ganha eleições, mas provoca estragos, sobretudo em quem está no governo. O êxito deste tipo de campanha não está relacionado a repisar questões éticas, já exploradas à exaustão, mas ao surgimento de novos e contundentes fatos. Se isso ocorrer, desde que legitimado por parcela dos eleitores, haverá risco para a reeleição do presidente Lula. Esta estratégia, no entanto, também coloca o candidato da oposição no fio da navalha. Alckmin, que tem índice alto de desconhecimento, precisa construir uma imagem. Por isso, precisa identificar temas e fazer ataques na dose certa. Uma postura agressiva, fora de tom, não o tornará mais competitivo e pode ampliar seus índices de rejeição.