Título: ARCELOR DIZ `SIM¿ À MITTAL
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Fonte: O Globo, 26/06/2006, Economia, p. 16

Siderúrgica indiana compra concorrente por 25,6 bilhões, criando gigante global do aço

LUXEMBURGO e LONDRES

Depois de cinco meses de um tumultuado noivado, foi anunciado ontem o casamento que dará origem à maior gigante mundial do aço: a européia Arcelor concordou com a proposta de compra pela indo-holandesa Mittal Steel, de 25,6 bilhões (US$32,2 bilhões), em dinheiro e ações. As duas siderúrgicas eram, respectivamente, a segunda e a primeira maiores do setor. A companhia resultante da fusão será três vezes maior do que sua concorrente mais próxima, a japonesa Nippon Steel.

¿ O Conselho de Administração decidiu unanimemente recomendar a aprovação da nova proposta da Mittal Steel ¿ disse ontem o presidente do conselho da Arcelor, Joseph Kinsch, acrescentando que a oferta da Mittal era 10% superior àquela feita no início deste ano.

A empresa resultante da fusão vai se chamar Arcelor-Mittal e terá sede em Luxemburgo. Ela responderá por cerca de 10% da produção global de aço, com vendas totais de 55 bilhões (US$69 bilhões) e 334 mil empregados, segundo dados de 2005.

A decisão, anunciada depois de uma reunião de nove horas do conselho da Arcelor, representa uma derrota para a direção da empresa, que chegou a costurar um acordo com a russa Severstal, controlada pelo magnata Alexei Mordashov, para barrar a proposta da Mittal. Os governos de alguns países europeus também eram contra a fusão, por temer demissões. A Arcelor tem forte presença na Bélgica, Espanha e França.

Sindicatos europeus temem demissões

No entanto, como a idéia da fusão com a Severstal gerou protestos dos acionistas, a Arcelor decidiu negociar este mês com a Mittal sobre sua oferta hostil. Uma oferta hostil significa uma proposta não solicitada, dirigida aos acionistas, não à direção da empresa.

¿ Sempre buscamos uma fusão recomendada (pelo conselho), no interesse de todos os acionistas. Estamos satisfeitos de termos conseguido isso ¿ disse um porta-voz da Mittal.

O fundador da Mittal Steel, o indiano Lakshmi Mittal, será o presidente não-executivo, e a presidência da empresa ficará com Kinsch, da Arcelor, até a aposentadoria deste, ano que vem. A família Mittal terá uma participação de 43,4% da nova companhia. Para o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, a fusão mostra a capacidade empresarial do país.

Segundo o vice-diretor-executivo da Arcelor, Michel Wurth, a nova proposta da Mittal vai pagar 40,40 por ação da siderúrgica européia. Esse valor é 15% acima do preço da ação da Arcelor na última quinta-feira, quando suas negociações foram suspensas devido à expectativa com a reunião do conselho, e 49% acima do proposto pela Mittal em janeiro. Em maio, a Mittal já havia renovado sua oferta, de 23 bilhões, ou 35,37 por ação.

Wurth disse que os acionistas da Arcelor terão 50,5% de participação na nova empresa e quatro cadeiras na diretoria, contra três da Mittal. Ele não quis falar sobre o futuro do atual diretor-executivo da Arcelor, Guy Dollé ¿ um dos maiores opositores da fusão com a Mittal. Ele chegou a afirmar que a Mittal estava oferecendo ¿dinheiro de Banco Imobiliário¿.

Para os analistas, o acordo foi o triunfo da economia sobre o nacionalismo. O primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, de início com o apoio da França, havia prometido combater a operação.

Ontem, o discurso mudou: o ministro de Economia luxemburguês, Jeannot Krecke, elogiou a fusão, ressaltando o fato de a sede permanecer no país. Ele disse que o governo ainda não decidiu se aceitará dinheiro ou ações por sua fatia de 5,6% na Arcelor.

A Arcelor ainda terá de pagar uma multa de 130 milhões para romper o acordo com a Severstal. Em nota, a empresa russa disse que ainda pode recorrer aos tribunais para tentar salvar sua fusão com a Arcelor. Semana passada, a Severstal se disse disposta a elevar sua oferta em 2 bilhões.

Na França, a confederação sindical CGT, à qual a maioria dos trabalhadores da Arcelor está vinculada, disse que está ¿fora de questão¿ concordar com ¿uma fusão puramente financeira¿. Segundo o jornal francês ¿Le Monde¿, a CGT teme demissões, tanto na Arcelor quanto na Mittal. E não poupou críticas:

¿ É tomar as pessoas por imbecis. Fazer guerra contra a Mittal durante meses, com uma propaganda inacreditável, para terminar nisso... Não podemos engolir isso! ¿ disse ao ¿Le Monde¿, revoltado, Marc Barthel, delegado nacional da CGT.