Título: REBELIÕES E GREVES TUMULTUAM OS PRESÍDIOS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 27/06/2006, O País, p. 3

Em Parelheiros, agentes se recusam a trabalhar alegando que foram ameaçados por presos

SÃO PAULO. Diversas ocorrências em unidades prisionais de São Paulo trouxeram de volta o fantasma da facção criminosa que deixou a capital paulista em pânico em maio. Houve tentativa de fuga no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Franco da Rocha e várias manifestações, inclusive greves de agentes penitenciários.

Depois de uma tentativa de fuga frustrada pela ação dos agentes penitenciários, as ameaças de morte por parte dos presos fizeram com que 20 funcionários do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Parelheiros, na capital paulista, se recusassem a trabalhar ontem. A tensão nos superlotados presídios de São Paulo entre presos e agentes começou com a fuga interrompida na última sexta-feira. Os agentes se recusaram a entrar no presídio ontem alegando falta de segurança.

Os agentes da unidade, que opera sem condições de segurança e disciplina, dizem que as ameaças vêm dos chefes da maior facção criminosa dos presídios. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, Parelheiros tem 1.147 presos mas sua capacidade é de 756 vagas.

- Nos presídios a atenção está redobrada, mas o risco maior é nas ruas, porque os agentes não podem portar arma. Nossa orientação é que evitem sair de casa sem necessidade - afirma João Reinaldo, diretor da Associação dos Agentes Penitenciários de São Paulo.

Segundo um funcionário do presídio, os agentes estão sendo ameaçados porque os presos os responsabilizam pelo tratamento mais rígido nas cadeias após os atentados de maio. O protesto terminou no fim da tarde.

Presos fogem pela portada frente em Araras

Na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, em Presidente Venceslau, a 620 quilômetros da capital, onde estão 400 chefes da facção criminosa, só agentes da tropa de choque conseguem entrar. Em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, houve tentativa de fuga no domingo à noite. Houve rebelião e três agentes foram feitos reféns. O protesto terminou às 5h30 de ontem. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, não houve feridos nem danos ao patrimônio. O CDP, com 864 vagas, tem 1.331 presos.

Em Araras, os presos dominaram dois carcereiros no domingo, tomaram dois revólveres e uma espingarda. Quase a metade dos 159 presos fugiu pela porta da frente da cadeia. Os guardas são suspeitos de facilitar a fuga. Os policiais de Araras conseguiram recapturar 26 detentos. A cadeia de Araras tem capacidade para 36 pessoas e estava com 159 presos.

O presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária, Cícero Santos, disse que o estado passa por uma crise de autoridade.

- Ninguém consegue dominar os presídios. As condições são subumanas. Os presos vivem amontoados, criando espaço para justificar barbaridades.

Os ataques de maio

Em 12 de maio começaram ataques a policiais e rebeliões nos presídios paulistas. A ação foi orquestrada, de dentro dos presídios de Presidente Venceslau e Presidente Bernardes, pelos chefes de uma das principais facções criminosas do país. Os bandidos mataram 42 agentes públicos, entre policiais, agentes penitenciários e guardas metropolitanos. No dia 15, São Paulo viveu o caos: os criminosos incendiaram quase cem ônibus e 20 agências bancárias. Lojas e escolas fecharam mais cedo por causa do terror imposto pelos bandidos. Policiais reagiram e, de 12 a 20 de maio, mataram 152 suspeitos, sendo 85 acusados de ligação com a facção criminosa.