Título: ACORDO AUTOMOTIVO VAI GARANTIR VENDAS DA ARGENTINA PARA O BRASIL
Autor: Janaina Figueiredo e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 27/06/2006, Economia, p. 22

Regras, que garantem benefício fiscal, têm prazo de dois anos de vigência

BUENOS AIRES e SÃO PAULO. Os governos do Brasil e da Argentina assinaram ontem um novo acordo automotivo transitório, que terá vigência de dois anos. O entendimento foi considerado positivo pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, que pela primeira vez visitou a Argentina desde que assumiu o cargo. No entanto, o entendimento não prevê, como pretendia o Brasil, uma nova data para a liberalização total do comércio de automóveis.

- Não se conseguiu explicitar a palavra livre comércio no acordo - admitiu Furlan, que se reuniu com o presidente Néstor Kirchner e com os ministros da Economia, Felisa Miceli, e do Planejamento, Julio de Vido.

Após a assinatura do acordo, o governo argentino mostrou-se eufórico.

- Trata-se de um entendimento equilibrado, que vai beneficiar ambos os países - declarou a ministra Miceli.

O novo acordo estabelece que para cada US$100 exportados, será possível importar US$195 sem o recolhimento do Imposto de Importação, que atualmente é de 35%. Ou seja, se a Argentina, por exemplo, exportar US$1 bilhão para o Brasil poderá importar US$1,95 bilhão em produtos brasileiros. A redução busca ampliar as exportações de automóveis argentinos para o mercado brasileiro.

Furlan aproveitou para pedir ao governo argentino que sejam reavaliadas as cotas aplicadas às importações de produtos brasileiros, sobretudo eletrodomésticos. Furlan disse que "as medidas foram implementadas em outro momento. Hoje a Argentina está crescendo e achamos que o contexto mudou". O ministro confirmou, ainda, a aprovação de um crédito de US$278 milhões do BNDES para elevar a capacidade de transporte de gás das empresas Transportadora de Gás do Norte (TGN) e Transportadora de Gás do Sul (TGS), que abastecem Buenos Aires.

Embora aparentemente favorável aos argentinos, o acordo foi bem recebido pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Para a entidade, neste momento seria arriscado fechar um acordo com vigência superior a dois anos, tendo em vista que as economias dos dois países ainda estão sujeitas a volatilidades. Mais importante, porém, é que o entendimento poderá normalizar as relações comerciais entre Brasil e Argentina no setor.

- Sem isso, o mercado ficava sujeito a decisões unilaterais - disse um executivo da indústria brasileira.

(*) Correspondente