Título: PREMIER DE TIMOR LESTE RENUNCIA
Autor: GIlberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 27/06/2006, O Mundo, p. 27

Povo festeja na capital saída de Alkatiri. Sucessor ainda não foi escolhido

PEQUIM. O premier de Timor Leste, Mari Alkatiri, renunciou ontem ao cargo transformando o clima de crise política na ilha - arrasada após dois meses de conflitos étnicos, violência e colapso institucional - numa grande comemoração, com milhares de pessoas festejando na capital, Díli. O presidente Xanana Gusmão reúne hoje o Conselho de Estado para montar um cronograma de ações para nova reconstrução do país.

Ana Pessoa e Ramos-Horta cotados para o cargo

Aguarda-se para hoje a convocação de uma reunião do comitê central da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente), partido que tem maioria do Parlamento e do qual Alkatiri faz parte, para a escolha do novo primeiro-ministro. Um dos nomes mais cotados é o da atual ministra da Administração Estatal, Ana Pessoa, que, apesar de ser ligada a Alkatiri, possui um perfil independente.

- Ana é um nome com bom trânsito no partido e no governo. Além disso, é católica, ao contrário de Alkatiri, o que conquista o apoio da Igreja, que não via com bons olhos um premier muçulmano num país de maioria cristã - diz uma fonte ligada ao presidente Xanana Gusmão.

Outro cotado é o prêmio Nobel da Paz José Ramos-Horta, que renunciara no domingo às pastas do Exterior e da Defesa em protesto por Alkatiri não deixar o cargo.

A crise no Timor Leste - ex-colônia portuguesa de um milhão de habitantes que por 25 anos foi ocupada pela Indonésia - explodiu em abril quando 600 soldados, um terço da Força de Defesa, acusaram superiores e o próprio premier de discriminação étnica. Os soldados rebelados aproveitaram a insatisfação popular para arregimentar apoio, atacar a polícia e incendiar órgãos do governo e casas.

Além dos confrontos, a suspeita de ligação de Alkatiri com esquadrões da morte aumentou a pressão por sua renúncia.

Luis Fernando Vieira, chefe da missão da Organização Internacional das Migrações, que trabalha com a ONU no apoio aos mais de 100 mil refugiados dentro e fora de Díli, afirma que a distribuição de alimentos e água continua e que a vida volta aos poucos à normalidade:

- A saída de Alkatiri é apenas o primeiro passo de uma reforma que, a partir de agora, terá que curar feridas provocadas por conflitos étnicos. Antes, o inimigo eram os indonésios. Agora, ele está dentro da ilha.