Título: DIRETAMENTE DAS PRISÕES
Autor: Adauri Antunes Barbosa/Fábio Mazzitelli/Giba
Fonte: O Globo, 28/06/2006, O País, p. 3

Facção criminosa que teria ordenado ataques paga enterros dos suspeitos, segundo delegado

Os promotores Nelson dos Santos Pereira Júnior, de São Bernardo do Campo, e Carlos César de Faria Bernardi, de Diadema, vão acompanhar as investigações sobre a morte de 13 supostos criminosos pela polícia anteontem. Os mortos seriam ligados à maior facção criminosa do estado e planejavam, segundo a polícia, matar agentes penitenciários. De acordo com o delegado Paul Henry Verduraz, de São Bernardo, o sepultamento ontem de sete dos 13 mortos foram pagos pela facção criminosa.

As despesas com velórios e enterros de alto padrão em São Bernardo ultrapassaram R$20 mil, segundo ele. O delegado disse que a facção criminosa ainda ofereceu cestas básicas e "apoio social" aos parentes dos mortos.

A informação do delegado foi confirmada por funcionários do serviço funerário municipal. As despesas com os sepultamentos de Edson Dantas da Silva, Mário Tavares, Marcelo Alves dos Santos, Wellington de Araújo Carvalho, Evílson Rodrigues de Oliveira, Adriano Wilson da Silva e Gilberto Inácio Ferreira foram pagas à vista. Um dos caixões, superluxo, custou R$1.132,67. Os sete foram enterrados num único jazigo, comprado ontem por R$17 mil no Cemitério Jardim da Colina, particular. O preço do jazigo seria de R$18.610, mas, segundo funcionários do cemitério, o pagamento à vista garantiu desconto.

O delegado seccional de São Bernardo, Marco Antônio de Paula Santos, disse que nenhum dos mortos era inocente. Todos, segundo ele, tinham antecedentes criminais e estavam ligados à facção criminosa. O delegado negou que os policiais sob seu comando tenham agido sem critério, mas admitiu que alguns suspeitos eram conhecidos só por seus apelidos, mostrando que as investigações foram feitas principalmente por meio de escuta telefônica.

Em depoimentos à polícia, os cinco detidos na ação - Marlon José de Souza, Adriana Pereira Damasceno, Edgar Nogueira dos Santos, Renata Melo Dias e Simone dos Anjos - negaram participação. Eles estavam nas imediações do posto de gasolina onde os agentes seriam mortos.

"Não há denúncia de execução", diz advogado

Segundo Santos, o tiroteio entre policiais e criminosos começou depois que um deles, armado, recebeu ordem de prisão. Os bandidos começaram a chegar à região do Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo por volta das 5h. Segundo a polícia, eles pretendiam matar pelo menos três agentes penitenciários a tiros, que seriam atacados após o expediente, no trajeto até o ponto de ônibus.

De acordo com o delegado, os policiais acompanharam a movimentação dos suspeitos e deram ordem de prisão a um homem que esperava pelos agentes, armado, no ponto de ônibus. Houve troca de tiros. Foram mortos dois suspeitos no ponto de ônibus, seis num posto de gasolina, um em outro posto, e o décimo num carro. Três suspeitos fugiram num carro em direção a Diadema, mas foram mortos num bloqueio policial. Três mulheres responsáveis por observar a rotina dos agentes e dois homens foram presos. Com eles foram apreendidos sete revólveres, nove pistolas e uma espingarda.

Os investigadores policiais afirmam que os criminosos agiram por ordem de chefes do crime organizado que estão presos. A determinação era para que matassem de cinco a 15 agentes em dez dias. O prazo terminaria ontem.

O juiz-corregedor de São Bernardo, Luiz Geraldo Lanfredi, decretou sigilo nas investigações. O Ministério Público solicitou segredo em relação às interceptações telefônicas feitas pela polícia, mas o juiz estendeu a decisão e impediu o acesso ao inquérito. Somente policiais, promotores e advogados das partes poderão ver o processo na íntegra.

O advogado Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, esteve na delegacia para solicitar os boletins de ocorrência e os laudos cadavéricos.

- Por enquanto, a polícia tem sido transparente. Não há qualquer denúncia formal de execuções ou excessos - disse.

As mortes serão debatidas pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo na próxima reunião da comissão independente que já investiga os assassinatos de 85 suspeitos de participar da facção criminosa entre os dias 12 e 20 de maio em São Paulo. Da comissão participam o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), o Ministério Público Federal e entidades de direitos humanos.

* Do Diário de S.Paulo

EXECUÇÃO EM 2002

Em 5 de março de 2003, a Polícia Militar de São Paulo matou 12 homens que pertenceriam à principal facção criminosa de São Paulo numa emboscada no pedágio da Rodovia Castelinho, em Sorocaba. A operação envolveu cem homens e 25 carros. Segundo a polícia, que disparou mais de 700 vezes contra os criminosos, a quadrilha roubaria um carregamento de malotes contendo R$28 milhões no aeroporto local. Os bandidos estavam num ônibus, em duas caminhonetes e uma Parati. Segundo a polícia, o motorista do ônibus desceu atirando. Os oito passageiros foram mortos. Mas a perícia comprovou que não houve tiros de dentro para fora do ônibus e que a maioria das vítimas foi executada com tiros na cabeça. Em dezembro de 2003, o Ministério Público denunciou 53 PMs por homicídio triplamente qualificado - motivo fútil, meio cruel e emboscada - abuso de autoridade e violação de dever. Para o Ministério Público, a polícia contou com a ajuda de dois detentos, que teriam atraído os assaltantes para uma armadilha no local.