Título: Ele deu continuidade à política tucana, dizem
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 28/06/2006, O País, p. 8

O cenário internacional favoreceu a política econômica no governo Lula, que é uma continuidade da do tucano Fernando Henrique, e contribuiu para recompor o cenário que o presidente classificou de "desarranjado". Na avaliação de especialistas, o mérito pela estabilidade econômica se deve, em grande parte, ao fato de Lula ter dado continuidade à cartilha tucana. Todos reconhecem, no entanto, que o Brasil enfrentava em 2002 uma conjuntura de crise, exacerbada pelo que consideram incerteza natural do processo eleitoral - pelos discursos dúbios do PT, pela crise argentina e pela alta taxa de câmbio.

Professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, Paulo Nogueira Batista Junior reconhece que o quadro era de fragilidade, em 2002, mas lembra que o governo Lula manteve a sobrevalorização cambial - um dos fatores que contribuíram para a crise pré-eleição do presidente. Estaria, portanto, repetindo as condições que reclama ter herdado do governo tucano.

- Além das condições externas desfavoráveis, a fragilidade da política econômica do governo Fernando Henrique contribuiu para isso que Lula chamou de desarranjo, notadamente a sobrevalorização cambial. Se bem que, no momento, é o roto falando do remendado, o próprio Lula está repetindo o erro da sobrevalorização cambial - diz Paulo Nogueira.

Para Antônio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, a política macroeconômica de Lula foi bem-sucedida, mas o presidente deixou de fazer as reformas tributária, previdenciária e política. Ele afirma que o petista assumiu quando o país já estava sem inflação e apenas deu continuidade à política de Fernando Henrique:

- O ex-presidente Fernando Henrique resolveu o problema da hiperinflação. Lula deu continuidade à política anterior e pagou as dívidas do país. Aliás, é por isso que o Paul Singer e a Maria da Conceição Tavares são críticos da política econômica dele. Mas ainda há muito a ser feito - diz Porto Gonçalves.

José Márcio Camargo, professor de economia da PUC-RJ e sócio da consultoria Tendências, diz que o grande mérito de Lula foi ter continuado e, em alguns casos, aprofundado as políticas econômicas do seu antecessor. Para ele, essa foi uma escolha correta do presidente e é preciso elogiá-lo por isso. Segundo o economista, o governo Lula teve uma política fiscal forte, conseguindo superávits que permitiram o pagamento de dívidas.

- A política monetária também é muito boa porque ele manteve as metas de inflação. Ao mesmo tempo, o Banco Central conseguiu se aproveitar dos bons desempenhos da economia mundial para acumular reservas, pagar dívidas e diminuir a vulnerabilidade externa da economia brasileira. O que discordo é da idéia de que as políticas anteriores eram piores do que as adotadas atualmente. Foi feita uma continuação - afirmou.

Ex-diretor do Banco Central e professor do Ibmec, Carlos Thadeu de Freitas lembra que o risco-país ultrapassou os dois mil pontos em 2002. Ele afirma que o governo Lula desarmou os nós da economia com uma política fiscal rígida. A crise na economia, na avaliação dele, tinha origem na crise argentina e no risco de apagão.

- O quadro internacional ajudou muito o presidente a desatar os nós. Os ventos sopravam a favor. No começo, ele desarmou a crise demonstrando que seguiria a política correta, com uma política fiscal rígida. Havia, no mercado, o chamado "lulômetro", usado politicamente contra o então candidato. Eleições sempre geram incerteza.