Título: 'PEGUEI O BRASIL DESARRANJADO E ARRUMEI A CASA'
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 28/06/2006, O País, p. 8

Lula mantém estratégia de comparar sua gestão com a de FH mas usa a economia, que teve continuidade

BRASÍLIA. Em seu primeiro discurso numa cerimônia oficial em Brasília já como candidato declarado à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve ontem os ataques à gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. Disse que assumiu o governo com "o Brasil desarranjado" e que conseguiu arrumar a casa. Ao discursar na abertura da 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária, Lula disse que as dificuldades eram tantas que até economistas do PT duvidavam da sua capacidade de resolver os problemas. No início do governo, Lula recebeu de vários economistas ligados ao PT críticas sobre a condução da política econômica.

- O Brasil, quando pegamos, era assim: uma coisa um pouco desarranjada. As pessoas achavam que não ia dar certo. Economistas sérios como Paul Singer, como Maria da Conceição Tavares, achavam que a gente ia ter muita dificuldade. Alguns achavam até que o país estava quebrado. O que aconteceu? O que aconteceu é que conseguimos arrumar a casa de tal ordem que alguns críticos do passado não sabem como explicar - disse Lula.

Citação ao FMI no discurso

Entre as arrumações, citou a devolução de US$15,6 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o pagamento de dívida com o Clube de Paris e até pagamento de débitos relativos à moratória feita no governo José Sarney.

Na conferência, organizada pelo Ministério do Trabalho num clube de Brasília, Lula ouviu da platéia de cerca de 500 pessoas gritos em favor de sua reeleição. E mesmo no palanque houve uma manifestação explícita de apoio à candidatura, vinda do presidente da Cooperativa Geral (Coop), Niro Roni Nobre Barrios, que, em seu discurso defendeu a reeleição do petista:

- Presidente, com sua reeleição o senhor pode contar (...) com essa grande parcela de pessoas para pôr em prática nosso modelo de desenvolvimento.

Lula falou indiretamente em eleição quando disse que é preciso ter organizações sólidas, como cooperativas, para que sobrevivam, independentemente do governo.

- Temos que criar uma organização tão forte, tão sólida que, independentemente de quem venha a ser presidente da República, essa pessoa saiba que não pode desmontar o que está enraizado - disse.

Novamente aplaudido pela claque, Lula disse que agora o Brasil impôs sua independência aos poderosos.

- O Brasil não depende mais do FMI, do sorriso do presidente americano. O Brasil depende só de nós.

Lula brincou que, cada vez que perdia uma eleição, discutia com os economistas do PT problemas como a questão da dÍvida externa e a relação com o FMI. Citou Paul Singer, Eduardo Suplicy, Aloizio Mercadante, Paulo Nogueira Batista, Maria da Conceição Tavares. Na mesa de convidados estavam Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária, e o senador Suplicy.

- De vez em quando eu dizia para eles: diabos, vocês são meus amigos e dizem que o Brasil está quebrado e querem que eu seja presidente da República? - contou Lula, sorrindo.

Em mais um ataque ao governo tucano, Lula disse que é preciso arcar com as responsabilidades da herança recebida.

- Temos que cumprir nossos compromissos. São compromissos internacionais, feitos por governos anteriores. E, quando a gente casa com a viúva, a gente tem que herdar os filhos também - disse Lula, provocando risos da platéia.

"Temos vocês e vocês têm a nós"

Em mais uma crítica, Lula disse que o país não estava preparado para adotar ações que beneficiassem a parte mais pobre da população. Ele citou programas como o Microcrédito, que resultou, segundo ele, na inclusão de milhões de pessoas ao sistema bancário.

- Nós temos vocês e vocês têm a nós. Temos um governo com decisão política para fazer as coisas. Vocês sabem o que precisa ser feito. Isso tudo juntou a fome e a vontade de comer. E a comida está na mesa - disse Lula, numa referência ao Fome Zero.

Ainda em seu discurso, o presidente admitiu que achava que seria "mais fácil" vencer resistências do próprio Banco Central para criar cooperativas, por exemplo.

- Achava que era tudo mais fácil. Mas sou o reivindicador-mor: reivindico para mim todo santo dia.

Entre as autoridades presentes estava o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, convidado para ser o tesoureiro da campanha de Lula e do PT.

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