Título: BRASIL RECEBEU US$ 28 BI DE PARAÍSO FISCAL
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 28/06/2006, Economia, p. 22

Apesar disso, EUA, Holanda, Espanha e França lideram investimentos

SÃO PAULO. Investidores com sede em paraísos fiscais como Cayman, Bahamas, Bermudas e Panamá responderam por 16,4% do estoque (saldo dos fluxos anuais) de investimento direto estrangeiro (IDE) recebido pelo Brasil até 2005. Para um estoque total de US$175,475 bilhões, os recursos provenientes de paraísos fiscais somaram US$28,7 bilhões. Nos últimos dez anos, essa participação nunca ficou abaixo dos 16%, batendo em 17,9% em 2003.

Este é um dos resultados de estudo inédito elaborado pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). Para efeito de comparação, a participação dos paraísos fiscais, que oferecem um ambiente de baixa tributação e sigilo sobre a composição societária das empresas, supera a fatia acumulada por investidores espanhóis e franceses (14,1%) e fica muito próxima da dos Estados Unidos (20,8%, que lidera o ranking de maior investidor direto no Brasil).

Pelo estudo, o destaque ficou com Cayman, país de origem de US$12,417 bilhões de tudo que entrou no Brasil nos últimos dez anos - ou quase duas vezes o estoque de investimentos originados no mesmo período na Alemanha (US$7,7 bilhões).

- Como as facilidades tributárias acabam atraindo muitos investidores de diversas nacionalidades, os ingressos de capitais originários de paraísos fiscais não representam, necessariamente, investimentos de empresas nativas desses países - diz o economista-chefe da Sobeet, Alexander Nogueira Xavier.

A Sobeet não faz juízo sobre a natureza do dinheiro que transita pelos paraísos fiscais, geralmente envolvidos em denúncias de operações financeiras ilegais.

Para chegar a esses resultados, a entidade partiu do resultado do Censo de Capitais Estrangeiros feito pelo Banco Central em 2000, somando a ele o fluxo de capitais em reais registrado nos cinco anos seguintes. Desta forma, o estudo capta também os efeitos das variações cambiais sobre o patrimônio dos investidores estrangeiros.

EUA, Holanda, Espanha e França são, pela ordem, os países com maior participação no estoque de investimento direto no Brasil. Cayman vem a seguir. Considerando-se o saldo até 2005, o setor de serviços recebeu 58% dos recursos (US$101,624 bilhões), contra 38% para a indústria (US$66,352 bilhões) e apenas 4% para agricultura (US$7,499 bilhões).

A partir de 1995, com a maior abertura comercial e privatizações, o setor de serviços atraiu mais recursos.

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