Título: Ministro entrega o cargo
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O País, p. 3

Rodrigues deixa a Agricultura sem conseguir apoio no governo por redução de impostos do setor

Um dos mais prestigiados auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciou ontem que deixará o governo. A notícia foi comunicada ao presidente na noite de anteontem, em jantar no Palácio da Alvorada. Ao justificar a decisão, que surpreendeu até membros de sua equipe, Rodrigues disse que está saindo por considerar que já cumpriu sua missão no cargo. Problemas de doença na família, inicialmente alegados por governistas como Romero Jucá (PMDB-RR), foram descartados pelo próprio Rodrigues. Sem atirar contra o governo, ele deixou claro, entretanto, que antecipou em seis meses sua saída porque não tinha mais como brigar por mudanças que considerava fundamentais, como a redução de impostos sobre produtos agrícolas.

¿ Cheguei ao limite do que eu poderia fazer. O resto agora está no nível técnico. Considero que minha missão está cumprida ¿ resumiu o ministro.

Embora tenha conseguido aprovar, somente este ano, quatro pacotes agrícolas, Rodrigues não teve êxito no que sempre chamou de ¿medidas estruturantes¿. São exemplos a redução de tributos, como o PIS e a Cofins sobre alguns alimentos, e a queda do imposto de importação sobre insumos e defensivos agrícolas que, segundo ele, estão no nível técnico, e não político, o que contribuiu para que antecipasse seu pedido de demissão. Sua intenção era se desligar em dezembro.

Além disso, Rodrigues nunca escondeu seu descontentamento em relação ao câmbio valorizado ¿ que teria provocado perda de renda dos produtores ¿ e aos juros altos. E sempre se queixou do péssimo estado das estradas, que acaba prejudicando o escoamento da safra agrícola.

Falta de acordo com a área econômica

A interlocutores mais próximos, o ministro comentava as dificuldades que enfrentava para negociar com a área econômica incentivos e prorrogações de dívidas dos produtores rurais e temia que sua passagem pelo ministério fosse vinculado à crise na agricultura. Rodrigues também estaria se sentindo desgastado por pressões do setor e dos parlamentares da bancada ruralista no Congresso. Ele disse que não está saindo do cargo movido por questões políticas:

¿ Não existe componente político e tampouco relação com o processo eleitoral. Sou um técnico. Jamais fui filiado a um partido político.

Ele disse que já havia posto o cargo à disposição do presidente por quatro vezes. Segundo Rodrigues, isso ocorreu em momentos de crise e de especulações sobre mudanças no Ministério de Lula. Um desses momentos foi quando teve sérias divergências com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, na crise da aftosa. Agora, Lula não pediu para permanecer.

¿ O presidente entendeu os argumentos que apresentei e não me pediu que permanecesse no cargo. Mas, por enquanto, ainda sou ministro e continuo trabalhando.

Rodrigues disse que sua saída não implicará mudança na política agrícola atual. Ele aproveitou para elogiar a área econômica do governo.

¿ O que era possível fazer, como maior oferta de crédito e redução de juros agrícolas, foi feito, graças ao empenho do ministro Guido Mantega (Fazenda), da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e do ministro Paulo Bernardo (Planejamento). Agora, as questões estruturantes não dependem mais da minha presença ¿ afirmou.

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse que Rodrigues sai no auge da crise da agricultura.

¿ Isso é apenas mais um reflexo sobre a crise na agricultura, que é muito grave. Diante de taxas de juros elevadíssimas, da oscilação do câmbio e de altos custos de produção, reflexos da carga tributária e da precariedade na infra-estrutura do país, o governo Lula está desmontando o setor produtivo do país ¿ afirmou Alckmin.