Título: Rodrigues admite que sua gestão será relacionada a crise na agricultura
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O País, p. 4

Produtores vivem má fase com taxas de juros altas e preços pouco competitivos

BRASÍLIA. No momento em que explicava os motivos de seu pedido de demissão, Roberto Rodrigues confidenciou ter aprendido uma lição: um ministro da Agricultura jamais deve assumir o cargo no auge de um ciclo positivo. A tendência mais do que certa é de piora. Ele admitiu que sua gestão será lembrada por uma das mais graves crises vividas na agricultura:

¿ A gente nunca pode ser ministro da Agricultura quando o setor está no máximo.

Foi o que aconteceu. Em 2003 a agricultura e a pecuária passavam por um período de bonança que se estendeu até 2004, quando os produtores começaram a se queixar do câmbio valorizado e das altas taxas de juros. Em 2005, a situação piorou, devido à forte estiagem que devastou culturas, principalmente, no Sul do país.

O mau desempenho da agricultura impediu que o Produto Interno Bruto tivesse uma alta melhor do que a taxa de 1,4% registrada em 2005. Esse cenário é oportuno para o principal adversário do presidente Lula, Geraldo Alckmin (PSDB), atacar o governo e prever resultado ainda pior em 2006 e 2007.

Os exportadores de produtos agropecuários brasileiros afirmam que estão ganhando menos em reais porque, como a moeda está valorizada frente ao dólar, os preços de seus produtos ficam menos competitivos no exterior. E não se conformam com as taxas de juros.

¿ Temo que a saída de Rodrigues só piore as coisas. Ele mesmo não conseguiu fazer o que queria ¿ disse Octavio Mello Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura.

Rodrigues sempre bateu de frente principalmente com integrantes da área econômica pelos interesses de sua pasta, em algumas ocasiões de forma polêmica, entrando em guerra aberta com quem fosse contra suas convicções.

No início de 2004, em reunião com parlamentares da bancada ruralista, Rodrigues teria chamado o então ministro do Planejamento, Guido Mantega, de vagabundo. A informação foi veiculada na mídia, mas o ministro da Agricultura negou. Com a ida de Mantega para a Fazenda, a relação entre os dois melhorou bastante. Mais flexível que seu antecessor, Antonio Palocci, Mantega concordou em prorrogar dívidas milionárias dos agricultores, prejudicados com os problemas climáticos e macroeconômicos no país. Rodrigues também assumia posições divergentes das do ex-ministro da Reforma Agrária, Miguel Rossetto.

O ministro também considera que na raiz da crise que o setor agrícola enfrenta neste ano estão erros cometidos no ano passado, quando a área econômica retardou a liberação de R$1 bilhão para a comercialização da produção. Os recursos foram solicitados em fevereiro de 2005, deveriam ser liberado nos dois meses seguintes, mas saíram a conta gotas: R$400 milhões em agosto e R$300 milhões em novembro. Sem estes recursos, os produtores rurais não puderam manejar a venda da produção gerando uma pressão pela baixa dos preços. O resultado disso foi a redução dos preços dos produtos da cesta básica e a perda de rentabilidade do setor agrícola.

COLABOROU Ilimar Franco