Título: LULA: POBRES NÃO DÃO TRABALHO, NÃO PROTESTAM
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O País, p. 8
Em evento oficial do Bolsa Família, presidente discursa como candidato e acusa oposição de dificultar criação do Fundeb
CONTAGEM (MG) Num evento preparado para exaltar o investimento em programas de renda mínima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, reforçou ontem seu discurso de pai dos pobres em Minas. Criticou os adversários, a quem acusou de dificultar a aprovação, no Senado, do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico), por terem uma ¿mente pequena¿ e por medo de que a medida beneficie o governo. A uma platéia de beneficiados pelo Bolsa Família, Lula disse que seria mais fácil governar um país se ele pudesse apenas ¿cuidar dos pobres¿.
¿ Os pobres, na verdade, não dão trabalho. Por isso é que, durante muito tempo, ficaram esquecidos. Muitas vezes, os governantes não olham para eles porque eles não estão na rua fazendo passeata e fazendo protesto contra os governos. Muitas vezes o pobre quer apenas um pão, enquanto muitas vezes o rico, cada vez que encosta perto, quer um bilhão. Então, fazer política para pobre é uma coisa prazerosa ¿ disse Lula, acrescentando:
¿ Os pobres não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, para alugar ônibus. Os pobres, muitas vezes, não estão nos partidos políticos, não entram na universidade, não vão sequer até o sindicato. Eles vão à igreja rezar e pedir ajuda a Deus.
Ministro defende reeleição em ato
Num ataque ao governo do ex-presidente Fernando Henrique, Lula ainda reclamou do que chamou de erros dos cadastros recebidos de programas sociais da gestão anterior, como Bolsa-Escola e Vale-Gás, e que deram origem ao Bolsa Família. O discurso foi feito em cerimônia, na cidade de Contagem, para comemorar a conquista da meta de 11,1 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família.
O presidente se referiu indiretamente às eleições ao afirmar que os adversários temem que ele se beneficie da aprovação do Fundeb porque seriam liberados para a educação R$4,3 bilhões inicialmente:
¿ Não acredito que tenha gente que pensa de forma tão pequena, que seja capaz de prejudicar as crianças brasileiras pensando que está prejudicando o presidente da República.
Em discurso, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, defendeu a reeleição de Lula. Patrus disse que ele está mudando ¿a face social do Brasil¿ e que, com o Bolsa Família, foram substituídas as cestas básicas de períodos eleitorais por políticas do Estado.
¿ A História vai registrar (isso), assegurando mais quatro anos para que possamos consolidar e ampliar essas políticas. A História vai registrar o governo Lula como sendo o melhor governo no campo social ¿ disse Patrus, mesmo estando num evento pago com recursos públicos.
Contagem foi escolhida para o evento porque, segundo a prefeitura, mais quatro mil famílias da cidade entraram no programa. A prefeitura enviou cartas às quatro mil famílias informando que haveria a cerimônia do Bolsa Família no Ginásio do Sesi da cidade, que teve a presença de cerca de 2.600 pessoas.
A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), foi vaiada ao discursar, enquanto Lula foi saudado com gritos de ¿1,2,3, é Lula outra vez¿. Dentro do ginásio, apenas faixas do programa Bolsa Família, mas algumas pessoas vestiam camisetas vermelhas com a inscrição ¿Tô com Lula contra a corrupção¿. E, do lado de fora, faixas em favor da reeleição, como ¿Em 2006, apoiamos Lula outra vez. Movimento Acorda Povo¿.