Título: Israel invade espaço aéreo da Síria
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Fonte: O Globo, 29/06/2006, O Mundo, p. 31

Quatro caças dão rasante sobre palácio de presidente Assad. Palestinos executam jovem colono seqüestrado

CIDADE DE GAZA

Israel ampliou na madrugada de hoje (noite de ontem em Brasília) sua ofensiva na Faixa de Gaza, enviando tanques e tropas ao território palestino. A ação foi precedida de uma ação de intimidação à Síria ¿ que abriga um líder do Hamas acusado por Israel de ser o mentor do seqüestro ¿ onde o palácio de verão do presidente Bashar al-Assad foi alvo de um rasante de quatro caças israelenses, numa violação ao espaço aéreo do país.

Durante a madrugada, soldados israelenses encontraram o corpo do colono judeu Eliahu Yitzhak Asheri, de 18 anos, que fora seqüestrado domingo, informaram fontes da segurança palestina. Pouco antes, o grupo Comitê de Resistência Popular anunciara que ele fora executado.

Na Cisjordânia, o Exército israelense prendeu na madrugada uma dezena de ministros e deputados palestinos do Hamas, informaram membros de serviços de segurança palestinos. Entre os detidos estavam o ministro do Trabalho, Mohammed Barghouthi, e o vice-primeiro-ministro Nasser al-Shaher.

Governo do Hamas barganha seqüestro

Durante o dia, o governo o governo da Autoridade Nacional Palestina (ANP), sob o comando do grupo radical Hamas, indicou sua disposição de trocar, por mulheres, menores, velhos e doentes mantidos em cadeias de Israel, o cabo israelense Gilad Shalit, seqüestrado no domingo numa ação reivindicada por três organizações. A oferta foi apresentada em carta a países árabes, aos quais a ANP pediu apoio a uma solução negociada. Reivindicam o seqüestro do cabo Shalit as Brigadas Izzedin al-Qassam (braço-armado do Hamas), o Comitê de Resistência Popular e o Exército do Islã.

O Hamas argumentou que a invasão ¿não vai garantir a libertação do seqüestrado¿ e responsabilizou o governo israelense pelo destino de Shalit, tentando forçar uma retirada das tropas.

¿ A vida do soldado depende da decisão do governo do Estado de Israel de continuar ou pôr fim à sua ofensiva na Faixa de Gaza ¿ afirmou o vice-primeiro-ministro Nasseredin al-Chaer, pedindo ao mesmo tempo que seja poupada a vida do militar, o primeiro seqüestrado desde 1994.

A situação se agravou com os seqüestros de Asheri, estudante religioso, e Noah Moskovitch, de 62 anos, também seqüestrado domingo mas ainda não encontrado. Ao invadirem ontem Ramallah em busca de Asheri, forças israelenses prenderam o ministro do Trabalho da ANP e outros palestinos. O premier da ANP, Ismail Haniyeh, acusou Israel de tornar as coisas mais difíceis ao ordenar a entrada de tropas em Gaza.

¿ Ressaltamos que a ocupação (Israel) deve deter a escalada a fim de não complicar a situação e piorar a crise ¿ alertou Haniyeh.

Bombardeio contra universidade

As forças israelenses estabeleceram um posto de observação num aeroporto desativado no sul de Gaza, enquanto militantes palestinos se entrincheiravam em Rafah à espera de uma investida. Já o norte do território foi bombardeado pela artilharia israelense, sob a alegação de que o Exército estava calibrando sua pontaria. Também houve disparos de mísseis por aviões contra a área, sem a ocorrência de vítimas, contra um campo de treinamento do Hamas no sul e a Universidade Islâmica de Gaza.

Na Síria, o rasante no palácio de Assad em Latakia causou protestos do governo e a artilharia antiaérea teria atirado contra os aviões. O presidente estava no palácio na hora da ação intimidatória israelense, que causou várias explosões de rompimento da barreira do som de manhã cedo. O líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, vive em Damasco e é acusado por Israel de ter planejado o seqüestro de Shalit, o que o grupo nega.

Em Ramallah, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, tachou de ¿crime contra a Humanidade¿ o bombardeio da estação de energia em Gaza, que deixou 700 mil pessoas ¿ cerca de metade da população do território ¿ sem eletricidade, afetando também o abastecimento de água, feito em parte com o auxílio de bombas. Engenheiros disseram que o conserto da estação pode levar seis meses. A Liga Árabe acusou Israel de estar punindo coletivamente o povo palestino pelo seqüestro do cabo Shalit.

¿ Esse tipo de lógica não é aceitável ¿ disse o secretário-geral da Liga, Amr Moussa.