Título: INVASÃO É SINAL DE FRACASSO DE RETIRADA
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O Mundo, p. 32

Para analistas, medidas unilaterais como saída de Gaza levam a confronto

TEL AVIV. Mesmo que temporária, a volta das tropas israelenses para a Faixa de Gaza pode ser o primeiro sinal de fracasso do plano de desconexão implementado pelo ex-premier Ariel Sharon ano passado. Faltando pouco mais de um mês para o aniversário de um ano da retirada unilateral, que removeu mais de oito mil colonos do território palestino, analistas criticam manobras unilaterais sem coordenação com o governo palestino e advertem para o perigo de um plano semelhante, a ser implantado pelo premier Ehud Olmert, para evacuar a Cisjordânia e estabelecer as fronteiras definitivas de Israel até 2010.

Analista diz que promessas de paz foram ilusão

Segundo o professor de Ciências Políticas Gideon Rahat, da Universidade Hebraica de Jerusalém, a onda de foguetes Qassam sobre alvos no sul de Israel e atentados a bases militares como Kerem Shalom mostram que a falta de diálogo com palestinos e a política de isolá-los de Israel, sem dar atenção a seus conflitos internos, falhou. Ele explica que a volta a Gaza não surpreende pelo fato de nunca ter sido feito um acordo final com palestinos e classifica de ¿ilusão governamental¿ as promessas de paz feitas há um ano.

¿ Não houve contatos com o outro lado e agora há uma sensação de estarmos no túnel do tempo em direção ao passado. Ninguém disse que o Exército não voltaria a atuar em Gaza, mas a crise política do lado palestino e a conseqüente onda de violência apressou as coisas. Sem diálogo e coordenação entre governo e ANP, não vai haver retirada ou cerca de segurança que tragam a paz ¿ explicou.

Para o pesquisador, o seqüestro do soldado Gilad Shalit é o primeiro grande desafio militar de Olmert. Segundo ele, a própria conduta de Olmert, tentando buscar primeiro o diálogo antes de partir para a ação militar, pode ser um indício de que é chegada a hora de repensar o conceito de unilateralismo.

¿ O premier precisa estar atento. Ataques contra soldados como o de Kerem Shalom, se vierem a acontecer na Cisjordânia, próximo às grandes cidades israelenses, poderiam desencadear um círculo sem fim de atentados e revides, provocando um estrago regional. Olmert sabe disso e certamente deve estar levando algumas lições de Gaza para seu projeto na Cisjordânia ¿ advertiu o professor.

De acordo com pesquisa divulgada pelo jornal ¿Yedioth Aharonot¿, ao menos 70% seriam contra o plano de convergência proposto por Olmert para a Cisjordânia. A insegurança no sul e os constantes ataques de foguetes Qassam contra a cidade de Sderot fazem com que 65% dos israelenses que apoiaram a retirada de Gaza se oponham à manobra caso o plano fosse executado hoje. (R.M.)