Título: SEQÜESTRO IMPREVISTO
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O Mundo, p. 32

Membros da delegação egípcia que negociam a libertação do soldado israelense seqüestrado estão com a impressão de que aqueles que o mantêm refém pertencem a várias organizações e não sabem ao certo o que fazer com ele. Os egípcios também acreditam que as disputas ideológicas entre os seqüestradores provavelmente tornarão mais difícil um acordo que facilite uma rápida libertação de Gilad Shalit.

De acordo com uma fonte egípcia, haverá ¿longas negociações com forças irregulares e indisciplinadas¿. Sua opinião pode ser uma indicação de que o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, percebeu agora que o movimento que o levou ao poder pode lhe tirar a capacidade de manter o controle. O Hamas, movimento que tem tido uma imagem de unidade em suas fileiras, está parecendo cada vez mais o Fatah da era da intifada.

O seqüestro de Shalit resultou num conflito entre os que apóiam o cessa-fogo e os que se opõem a isto, e mostra a ineficiência da liderança política do Hamas.

Já não é mais um caso da velha disputa entre o Hamas fora dos território e o Hamas dentro dos territórios. Agora é também um conflito entre uma facção dentro do braço militar do Hamas, Izzedin al-Qassam, e o organismo central do grupo, que continua a seguir as diretrizes dos líderes políticos.

Segundo fontes do Hamas, uma facção hostil do Izzedin al-Qassam aparentemente uniu forças com o Comitê de Resistência Popular, gangues ligadas a famílias e grupos ramificados que controlam áreas de Rafah. Essas forças cavaram o túnel para Israel usado no seqüestro. A julgar pelas reações de Haniyeh e seus assessores, líderes do Hamas e partes do Izzedin al-Qassam não sabiam dos plano de ataque e do seqüestro, que foi um bônus inesperado, de acordo com uma fonte do Hamas.

¿ Em geral líderes políticos não sabem de todas as operações do braço militar ¿ afirmou uma fonte do Hamas.

Isto significa que Haniyeh não pode dar ordens ao braço militar?

¿ O braço militar trabalha em coordenação com o governo, e isto é ilustrado pelo fato de que o cessar-fogo tem sido preservado. Mas há vários comandantes em campo que não estão preparados para aceitar essas ordens ¿ disse a fonte.

ZVI BAR¿EL é analista do ¿Haaretz¿