Título: Grupo palestino cria unidade de seqüestros
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 29/06/2006, O Mundo, p. 32

Brigadas dos Mártires de al-Aqsa afirmam ter também em seu poder aposentado israelense sumido há dois dias

TEL AVIV. Pressionado pela megaoperação militar na Faixa de Gaza, o Comitê de Resistência Popular (CRP), responsável pelo seqüestro do soldado israelense Gilad Shalit, decidiu contra-atacar criando uma unidade especial de seqüestros na Cisjordânia. Na tarde de ontem o grupo confirmou as suspeitas da polícia e anunciou que mantém em cativeiro o colono Eliahu Asheri, de 18 anos, desaparecido do assentamento de Itamar desde o último fim de semana. O porta-voz do CRP, Abu Abir, mostrou na rede de TV al-Jazeera uma cópia da carteira de identidade do colono e ameaçou matá-lo caso Israel não deixe imediatamente a Faixa de Gaza.

Em resposta à confirmação, tropas israelenses voltaram a entrar na cidade de Ramallah, onde acredita-se que Eliahu está, e pelo menos três palestinos foram presos acusados de envolvimento no seqüestro. Fontes palestinas ouvidas pelo GLOBO afirmaram que Ramallah está cercada e um novo toque de recolher involuntário foi imposto.

¿ Jipes militares circulam constantemente e muitas lojas estão fechadas. Estamos com medo. Dizem que o colono está aqui, mas especula-se que ele tenha sido capturado por um grupo de Ramallah e transferido para a cidade de Belém ¿ contou uma jornalista palestina.

Aproveitando o clima de tensão, comandantes das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa anunciaram que novos seqüestros serão realizados e que o grupo programa ataques com foguetes a alvos no centro de Israel.

Suspeita de que seqüestro de aposentado é blefe

De acordo com o advogado Eitan Peleg, um ex-espião do Shin Bet (o serviço de inteligência interno de Israel), a geografia montanhosa da Cisjordânia e a relativa facilidade dos terroristas em deslocar-se entre uma aldeia e outra complicam os trabalhos de busca. Peleg afirma que em casos de seqüestro, as operações militares devem ser mínimas para que os serviços de inteligência possam atuar da maneira mais discreta possível, trazendo informações precisas.

-¿ Em Gaza, uma das regiões mais populosas do planeta, a missão é dificílima. Na Cisjordânia o problema é o oposto, pois trata-se de um terreno vasto e os focos populacionais estão isolados uns dos outros. Estou fora do sistema há muitos anos, mas não posso dar detalhes de como funciona uma operação de busca deste tipo. Digo apenas que é um trabalho que envolve muitos colaboradores e é exatamente como se vê nos filmes ¿ despistou Peleg.

Enquanto as buscas por Gilad e Eliahu se intensificam em Gaza e na Cisjordânia, o serviço secreto israelense tenta checar informações sobre o paradeiro do aposentado Noah Moskovitch, de 62 anos, desaparecido há dois dias de Rishon Letzion, ao sul de Tel Aviv. Moskovitch sofre de pequenos distúrbios neurológicos decorrentes de um derrame cerebral sofrido há alguns anos e por diversas vezes já se perdeu no caminho para casa, mas nunca tinha desaparecido por mais de algumas horas. Ele havia saído de um encontro numa organização de assistência social quando foi visto pela última vez e carregava seu documento de identidade, com nome e endereço completos para possibilitar sua identificação.

Na tarde de ontem, as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa divulgaram um comunicado afirmando estarem com um cidadão israelense de 62 anos. Os serviços de segurança desconfiam que a mensagem é falsa. As buscas pelo aposentado foram intensificadas e o governo acredita que a mensagem é uma tentativa de grupos palestinos de inflamarem ainda mais o clima de apreensão e causar pânico aos israelenses.