Título: MENOS JUROS PARA EMPRESAS
Autor: Henrique Gomes Batista e Martha Beck
Fonte: O Globo, 30/06/2006, Economia, p. 23

Conselho Monetário reduz TJLP para 7,5%, mas setor produtivo esperava queda maior

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ontem reduzir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) de 8,15% para 7,50% ao ano. Este é o menor patamar histórico da taxa, criada em dezembro de 1994 e principal indexadora do crédito ao setor produtivo concedido pelo BNDES. A medida deve favorecer os investimentos industriais, acreditam especialistas. Entidades empresariais defendem que havia espaço para uma redução ainda maior.

- À medida que a inflação vem caindo, é razoável que se reduza a TJLP para que ela fique num patamar mais coerente com o aumento do investimento. Vai no sentido de auxiliar o aumento do investimento no Brasil, que já vem ocorrendo - disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Mais uma vez a queda da TJLP - que em abril passou de 9 % para 8,15% ao ano - foi unânime entre os três ministros integrantes do CMN. Embora Mantega tenha lembrado que, se utilizada a regra para fixar a taxa - a soma da inflação esperada com o risco-país - ela poderia chegar a 7% ao ano, nem mesmo a Fazenda defendeu uma margem menor.

Isso porque os mercados ainda não estão livres de turbulência, que elevaria o risco-país, e seria inconveniente subir a taxa na próxima reunião do CMN, daqui a três meses.

- Temos de lembrar que a regra para a TJLP é um parâmetro, não cálculo matemático automático. Ele dá apenas uma linha de ação para o CMN - afirmou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.

Para Skaf, TJLP poderia ser de 5,5%

O mercado gostou da sinalização trazida pela redução da taxa.

- Ainda há espaço para uma queda maior da TJLP, mas o importante desta decisão é que ela segue a política monetária de reduzir juros - disse Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco.

Mas, entre as instituições financeiras, houve quem minimizasse a decisão do CMN:

- É uma redução que tem muito mais impacto psicológico que real - afirmou Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria de Negócios. - É um sinal importante, mas não deve ser preponderante no aumento da formação de capital.

Já o setor produtivo, mesmo elogiando, ainda quer alterações. Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), afirmou que o Brasil não tem aproveitado o bom momento econômico mundial porque os investimentos em indústria e infra-estrutura não têm sido suficientes.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, a redução da TJLP é positiva mas ela ainda está muito alta frente a outros países:

- Embora tenha caído para 7,5% ao ano, o custo dos financiamentos acaba alcançando a marca de 10%.

Para o presidente do BNDES, Demian Fiocca, a redução da TJLP consolida um cenário favorável à continuidade do ciclo de crescimento econômico iniciado em 2004.

- A inflação está sob controle e o risco país continua baixo. O investimento cresceu 9% no primeiro trimestre do ano e acredito que continuará a avançar - afirmou.

Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), ressaltou, porém, que os juros no Brasil ainda são muito elevados e o acesso ao crédito, difícil.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, saudou a decisão do CMN, mas insistiu haver espaço para a taxa cair ainda mais. Ele disse que a TJLP em 5,5% garantiria uma boa remuneração ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), principal fonte das linhas de crédito do BNDES.

- Uma remuneração de 1% acima da meta de inflação é perfeitamente defensável - disse Skaf, ressaltando que, com maior investimento produtivo, o governo dependeria menos dos juros para controlar a inflação.

Para o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, o corte "é motivo de comemoração":

- Finalmente, o Brasil alcançou uma TJLP, em termos reais, próxima de 3%, o que é compatível com o cenário internacional e serve como estímulo ao investimento.

O CMN deu outro incentivo ao setor produtivo: permitiu que os recursos não aplicados no plano de safra 2005/2006 sejam usados no seguinte, o que significa mais R$2,9 bilhões.

COLABORARAM Luciana Rodrigues e Ronaldo D'Ercole