Título: CMN DECIDE REPETIR EM 2008 A META DE 4,5% FIXADA PARA ESTE ANO E 2007
Autor: Martha Beck/Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 30/06/2006, Economia, p. 24

Para Mantega, política econômica tem sido eficiente no controle da inflação

BRASÍLIA. O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ontem repetir em 2008 a meta de inflação deste ano, de 4,5% ao ano com dois pontos percentuais de tolerância para mais ou menos. A meta de 2007, que poderia ter sido revista, também foi mantida em 4,5%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou a decisão afirmando que a política econômica tem sido eficiente no controle da inflação. Segundo ele, não adianta fixar uma meta muito ambiciosa que, depois, exija aumentos de juros e traga prejuízos ao crescimento:

- Concluímos que estamos tendo pleno sucesso na condução das políticas monetária e fiscal. Portanto, estamos em condições de manter essa meta nos próximos anos.

Mantega: Lula aprovou manutenção da meta

O ministro disse ainda que apesar de o centro da meta ser de 4,5%, isso não significa que os resultados não possam ficar abaixo desse percentual. Ele lembrou que a expectativa de inflação deste ano já está abaixo dos 4,5% - de acordo com o boletim Focus do Banco Central (BC), a projeção é de 4,04%.

- O país tem uma inflação moderada, que não corrói mais os salários e não perturba os empresários que querem fazer investimentos de longo prazo. Isso não quer dizer que não se vá alcançar patamares menores de inflação. Porém, não estamos fazendo como se fazia no passado, quando se estabelecia uma meta muito ambiciosa e depois era difícil obtê-la, o que levava a uma política monetária que implica em grandes sacrifícios por parte do crescimento - disse Mantega.

Apesar de o presidente do BC, Henrique Meirelles, já ter afirmado que o ideal para o Brasil é ter uma meta de 4% no longo prazo, a decisão do CMN (formado pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento e pelo BC) não dividiu a equipe econômica. Segundo técnicos do governo, era geral a avaliação de que seria melhor não mexer na meta para dar mais tranqüilidade ao BC para manter a trajetória de redução dos juros.

A unanimidade permitiu até que Meirelles viajasse na semana passada e só voltasse na véspera da reunião do CMN. Além disso, Mantega admitiu que a manutenção da meta foi submetida ao presidente Lula:

- Eu levei o assunto ao presidente Lula e ele deu sua aprovação.

Mercado: decisão condiz com perfil de Mantega

O presidente do BC destacou que o mais importante neste momento é que o Brasil consolide não apenas o regime de metas, mas também uma previsão de inflação factível. Segundo ele, a credibilidade do regime permitirá que o governo reduza ainda mais os juros e promova o crescimento.

- Quanto maior a probabilidade de que a meta seja cumprida, mais crível é a política monetária e, portanto, menor o custo para a sociedade manter a inflação na meta. Isso traz maiores benefícios para a sociedade, com maiores taxas de crescimento e menores taxas de juros médias - disse Meirelles.

A decisão do CMN não surpreendeu o mercado. Segundo o sócio-diretor da Tendências Consultoria, Roberto Padovani, o Brasil ainda precisa atrair investimentos e aumentar seu PIB potencial para ter mais controle sobre os índices de preços e metas menores. Para ele, a manutenção da meta é condizente com o perfil de Mantega:

- Ele tem uma equipe que não se mostra muito empolgada em fazer uma gestão muito ortodoxa.

Para o economista-chefe para América Latina do ABN-Amro, Zeina Latif, o governo poderia ter dado "um sinal marginal de redução para o mercado", fixando meta de 4% para 2008.