Título: ZAPATERO ANUNCIA DIÁLOGO DE PAZ COM ETA, MAS ENFRENTA OPOSIÇÃO
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Fonte: O Globo, 30/06/2006, O Mundo, p. 32

Conservadores e parentes de vítimas rejeitam negociação com separatistas

MADRI. O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou ontem que iniciará um diálogo de paz com o grupo separatista basco ETA. A iniciativa pode representar o fim de 38 anos de um violento conflito, considerado o maior da Europa. O socialista Zapatero enfrenta, porém, resistência do conservador Partido Popular, que rejeita as negociações com o ETA, responsabilizado pela morte de 850 pessoas. Uma associação de parentes de vítimas do grupo terrorista também protestou contra a decisão, argumentando que o presidente "matou a memória dessas pessoas".

- O processo vai ser longo e difícil - reconheceu o presidente. - Cumpriremos essa tarefa com determinação e prudência, com unidade e lealdade e, sempre, com respeito à memória das vítimas.

Zapatero não explicou quando e como terá início o diálogo, mas indicou que no fim de setembro o ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, vai se reunir com partidos políticos para informar-lhes sobre o progresso nas negociações. Em março, o ETA anunciou um cessar-fogo permanente e se dispôs ao diálogo, abrindo caminho para o entendimento. O grupo vinha tendo sua estrutura armada seriamente debilitada pelas polícias de Espanha e França, que desde 2001 prenderam centenas de suspeitos de terrorismo.

O ETA luta pela independência do País Basco no norte da Espanha e no sudoeste da França, e seu nome é uma sigla para Pátria Basca e Liberdade. Mas pesquisas têm mostrado que os bascos não querem a independência e que as atividades do grupo vêm sendo minadas pela crescente rejeição pública à violência depois dos atentados de 11 de março de 2004 em Madri. Desde 2003 o ETA não comete assassinatos, embora continuasse explodindo bombas e recolhendo "impostos revolucionários" de empresários.

Negociações sobre desarmamento e presos

As negociações de paz provavelmente estarão concentradas em temas como transferência de prisioneiros do ETA para lugares próximos ao País Basco e o desarmamento. O grupo separatista reivindica também um referendo sobre o futuro da região.

Depois de mobilizar centenas de milhares de pessoas em protestos contra o diálogo com o ETA este mês em Madri, a Associação de Vítimas do Terrorismo manifestou ontem decepção com o governo. Em comunicado, disse: "Se o ETA matou fisicamente quase mil cidadãos e feriu mais de oito mil, José Luis Rodríguez Zapatero matou a memória dessas pessoas."

Já o Partido Popular retirara seu apoio às negociações semanas atrás, depois de o governo anunciar um plano de reunir membros do Batasuna, partido ligado ao ETA mas proscrito. A resistência da oposição - que exige a dissolução do grupo - poderá dificultar um acordo de paz. Outros governos espanhóis já tentaram sem sucesso o diálogo com o ETA.

França e Reino Unido manifestaram, porém, apoio à decisão de Zapatero, que recentemente concedeu independência à Galícia. O País Basco já desfruta de considerável autonomia nos setores de impostos, educação e saúde.